publicado a: 2016-11-02

Infestantes resistentes a herbicidas apareceram muito antes das culturas geneticamente modificadas

Podemos pensar que as infestantes resistentes a herbicidas são um fenómeno recente relacionado com o uso excessivo de glifosato ou outros herbicidas, em culturas geneticamente modificadas (GM). Mas de acordo com a Sociedade Americana de Herbologia (WSSA, sigla em Inglês) nada poderia estar mais longe da verdade.

Este ano cumpre-se o 20º aniversário de culturas GM resistentes ao glifosato, ao passo que no próximo ano se cumpre o 60º aniversário dos primeiros relatos de infestantes resistentes a herbicidas.

A primeira informação conhecida de resistência a um herbicida ocorreu em 1957, quando foi encontrado a infestante Commelina diffusa que cresceu num campo de cana-de-açúcar no Havai, resistindo a um herbicida com auxinas sintéticas. Este biótipo de infestante era capaz de resistir a cinco vezes a dose normal de herbicida. Nesse mesmo ano, plantas de cenoura selvagem (Daucus carota) cresciam em estradas em Ontário (Canadá), sendo resistentes a alguns dos mesmos herbicidas.

Desde então, 250 espécies de infestantes desenvolveram resistência a 160 tipos diferentes de herbicidas que abrangem 23 dos 26 mecanismos de ação dos herbicidas conhecidos. Estas encontram-se em 86 culturas em 66 países, pelo que, a resistência a herbicidas é um problema verdadeiramente global.

Os cientistas dizem que o que é único na resistência ao glifosato é a gravidade da pressão de seleção para o desenvolvimento de resistência. Mais de 90% da área de soja, milho, algodão e beterraba nos Estados Unidos são tolerantes ao glifosato e recebem tratamento com glifosato - muitas vezes, várias vezes por ano.

"O tamanho da área de cultivo afetada por infestantes resistentes ao glifosato tornou-o o rosto do problema generalizado da resistência", diz Shaw. "No entanto, problemas de resistência são muito mais amplos do que a um único herbicida e já muito antes das culturas GM tolerantes ao glifosato serem introduzidas."

A investigação mostra que as infestantes resistentes podem evoluir sempre que se utiliza uma abordagem única a gestão de infestantes, excluindo outros controlos químicos e culturais. Muitos agricultores têm tido grande sucesso na luta contra a resistência através da adopção de uma ampla gama de ações de controlo.

Um exemplo é encontrado nas experiências de produtores de algodão no sul dos Estados Unidos. Depois de anos de dependência do glifosato para o controle de infestantes, a infestante Amaranthus palmeri começara a invadir as culturas sendo o desempenho fortemente reduzido. Hoje, os programas de gestão integrada de infestantes, usando uma ampla gama de controles tornaram-se comuns no cultivo de algodão, apesar dos custo mais elevado. Os produtores estão a utilizar culturas de cobertura, remoção manual de infestantes, sementeira direta, remoção de sementes de infestantes e herbicidas com diferentes mecanismos de ação.

Houve sacrifícios. Os herbicidas, a mão de obra e o combustível adicional triplicaram o custo do controle de infestantes do algodão. Além disso, o aumento da mobilização aumentou a preocupação sobre a erosão do solo pela água e pelo vento. Mas, por agora, a cultura foi preservada.

"Embora a diversificação seja essencial para a sustentabilidade das culturas, pode ser difícil tomar uma decisão de gastar mais em estratégias de controlo integrado de infestantes", diz Stanley Culpepper, Ph.D., especialista em infestantes na Universidade de Georgia (EUA). "Como resultado, muitos dos esforços de maior sucesso para diversificar podem ser encontrados em culturas como o algodão onde a mudança se tornou imperativa."

Culpepper diz que, além de custo, outro obstáculo para a adoção da gestão integrada de infestantes é a crença de que alguns dos novos tipos de herbicidas são concebidos para tomar o lugar daqueles que não são mais eficazes em infestantes resistentes.

"Seria ingénuo pensar que só a aplicação de herbicidas poderá ser a forma de ultrapassaros problemas de resistência", diz Culpepper. "Embora herbicidas sejam um componente crítico para o controle de infestantes em grande escala, é muito importante cercar esses herbicidas com diferentes métodos de controlo de infestantes a fim de preservar a sua utilidade; não ficar à espera que venha algo melhor".



Fonte: WSSA

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