publicado a: 2017-11-21

Douro tem vinhas que são laboratórios a céu aberto

Na região do Douro foram criadas vinhas experimentais para estudar o comportamento das diversas castas de uvas e a capacidade de resistência à seca e ao tempo quente. O objetivo visa preparar e adaptar o território às alterações climáticas.

A produtora de vinhos Symington Family Estates, por exemplo, criou vinhas experimentais em zonas de climas diferentes: na Quinta do Ataíde, no Vale da Vilariça, e na Quinta do Bomfim, no Pinhão.

“É preciso perceber as alterações climáticas e tornar o Douro mais resistente”, diz Fernando Alves, responsável pela área de desenvolvimento e investigação da Symington.

Nas vinhas laboratório da empresa é “estudado o comportamento de 53 castas de uvas, analisando-se os aspectos enológicos, vitícolas e, sobretudo, fenológicos porque permitem conhecer a dinâmica do ciclo de cada uma das castas, desde o abrolhamento ao pintor e ao período de maturação”, detalha.

O responsável pela área de desenvolvimento e investigação da Symington considera que é fundamental “conhecer as castas que podem funcionar como mecanismos alternativos para eventuais alterações que conduzam a diferentes comportamentos climáticos na região”.

A recolha de dados na vinha experimental do Bonfim começou este ano vitícola que foi, segundo Fernando Alves, um ano de “muita aprendizagem” devido ao verão prolongado e à seca.

“Foi um ano bastante severo e permitiu-nos, por exemplo, contra algumas expectativas, mesmo em plantas novas, perceber alguns limites de resiliência de castas que temos no Douro e algumas deixaram-nos francamente surpreendidos com a boa capacidade de adaptação”, conta.

O Douro, a par com algumas regiões vitícolas de encosta, tem demonstrado “uma grande resiliência às alterações climáticas, desde logo pela orografia mas também pela variedade genética a nível de castas”.

Projeto Europeu estuda efeito das alterações climáticas nas uvas

A empresa Symington integra o projeto europeu Vineyards Integrated Smart Climate Application (VISCA), que visa analisar o impacto das alterações climáticas na produção de uvas na Europa.

O projeto vai desenvolver-se ao longo de três anos, tem um orçamento de 3,2 milhões de euros e junta 11 parceiros de Portugal, Espanha, Itália, França e Reino Unido.

Vai estudar as alterações climáticas na vinha e desenvolver um serviço climático de precisão ao nível local e temporal disponível para os viticultores e criar uma plataforma que é um sistema de apoio à tomada de decisão por parte do produtor.

“Nós temos que estar preparados, com as ferramentas todas, para procurar mitigar o efeito das alterações climáticas”, refere Fernando Alves.

O responsável adianta que o projeto vai “fornecer informação para um local específico de como vai estar o clima nos próximos três ou seis meses, se vamos ter uma temperatura acima do normal ou um período de seca mais prolongado ou um outro qualquer regime ou um evento específico que pode acontecer na vinha”.

Uma ferramenta de vital importância para os viticultores, na medida em que vai “permitir desde logo programar, planear acções, para poder mitigar o efeito”, realça.

O projeto vai ainda estudar “algumas práticas culturais, ao nível da gestão da parede de vegetação da videira, que permitem reposicionar o seu ciclo vegetativo e, no fundo, levar outra vez a videira a terminar o seu período de maturação, naquilo que nós vamos considerar como período ideal para aquela casta e aquele local”, conclui Fernando Alves.

O VISCA será validado por demonstrações reais com os utilizadores finais em três locais de demonstração em Espanha, Itália e Portugal.

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