publicado a: 2016-03-09

Perigo e risco - o desafio da indústria fitofarmacêutica

Explicar ao público a distinção entre perigo e risco é talvez o maior desafio que a indústria fitofarmacêutica enfrenta em 2016. É verdade que utilizar os produtos fitofarmacêuticos - como andar de carro, beber café quente, ou ter uma vela sobre a mesa - pode ser um perigo. Mas como todos os perigos com que nos deparamos diariamente, os riscos podem ser geridos de forma a não ameaçarem a segurança e a saúde dos seres humanos ou do ambiente.

Um princípio básico da toxicologia é que a dose faz o veneno. Todos os produtos químicos, até mesmo água e o oxigénio, podem ser perigosos em quantidades excessivas. Assim, é importante que a exposição seja gerida de forma a limitar o risco a um nível aceitável e ainda colher benefícios.

Considerando que as plantas representam mais de 80% da dieta humana, o benefício de uma proteção de culturas eficaz para ajudar os agricultores a culti­var de forma abundante é claro. Para além disso, muitos dos meios de subsistên­cia dos agricultores dependem da saúde das suas culturas. Sem acesso a produ­tos fitofarmacêuticos, a produção de alimentos torna-se muito mais difícil. Claro que é necessário gerir o risco na utilização destes produtos, mas basear a regu­lamentação apenas no perigo seria um risco para a segurança alimentar e um risco para a subsistência do agricultor.

O Instituto Internacional de pesquisa sobre o Cancro (IARC) avalia as substân­cias sobre os potenciais perigos de causar cancro. Ao longo dos anos, o IARC encontrou um risco potencial em centenas de artigos diários, incluindo telemóveis, legumes em conserva, calças de ioga e pó de talco - e em 2015, salsichas, bacon, carne vermelha e alguns produtos fitofarmacêuticos foram adicionados à lista. Reconhecendo que o risco carcinogénico de comer carne vermelha e processada é negligenciável, os governos, em todo o mundo, tranquilizaram os consumidores e aconselharam-nos a seguir as diretrizes de consumo existentes para uma alimentação saudável. No entanto, alguns desses governos têm restringido o uso de produtos fitofarmacêuticos com base na avaliação dos perigos do IARC. Considerando que em 2016 existem mais produtos fitofarmacêuti­cos para revisão pelo IARC, é necessário trabalhar com os legisladores para assegurar a aplicação de uma lógica baseada no risco.

A discussão em tomo dos desreguladores endócrinos é outra área onde a indús­tria deve introduzir no debate a lógica e a ciência. Naturalmente, as pessoas não devem ser expostas a substâncias que interagem negativamente com o sistema endócrino humano, mas o perigo só por si não é a medida adequada. Se consideramos a interacão com o sistema endócrino como o único critério para definir um desregulador endócrino, então o paracetamol, a vitamina C e o vinho seriam considerados desreguladores endócrinos. É fundamental ter em conta o risco real de uma substância com base na sua potência, na dose e na exposição.

O código internacional de conduta para a utiliza­ção de pesticidas diz que os produtos fitofarmacêuticos devem ser regulamentados com base no risco, e não no perigo, e a Croplife lnterna­tional está empenhada em trabalhar com a FAO (United Nations Food and Agriculture Organiza­tion) e outros parceiros para promover essa abordagem. No entanto, atualmente há uma crescente pressão da parte dos ativistas sobre os legisladores para proibir os produtos alta­mente perigosos (HHPs - Highly Hazardous Pesticides). simplesmente em virtude do risco.

E a indústria tem respondido. Em 2015, as empresas associadas da Croplife lnternational fizeram um compromisso voluntário para gerir os potenciais riscos decorrentes dos HHPs, e a nossa ambição centra-se no compromisso de toda a indústria em manter estes esforços.

"O que é natural é inerentemente mais seguro" representa um mito cada vez mais popular acla­mado por grupos de interesse especial. No entanto, isto ignora a evidência factual. Por exemplo, as doenças relacionadas com a alimentação são maioritariamente devido a patogénicos nos alimentos tais como Escheri­chia coli, que muitas vezes são rastreados em adubos orgânicos ou práticas de manuseamen­to de alimentos inapropriadas.

Todas as formas de agricultura têm a mesma responsabilidade em garantir uma prudente gestão dos riscos em relação aos perigos - uma responsabilidade que a indústria fitofarmacêutica e os legisladores nacionais levam muito a sério. Mas, restringir os produtos fitofarmacêuticos apenas com base no seu perigo seria um risco para a subsistência do agricultor e para a segurança alimentar global.


Fonte: Agribusiness Global / Anipla (Flash FitoSíntese 09.03.2016)

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