publicado a: 2018-12-12

Efeitos da aplicação de macro e micronutrientes sobre o desenvolvimento e fisiologia de oliveiras

Uma nutrição adequada é importante desde os primeiros anos de crescimento das oliveiras porquanto estimula o crescimento vegetativo, o que permite um desenvolvimento radicular e da copa favoráveis à futura frutificação e uma redução da fase juvenil não produtiva. Influencia também, em fases mais avançadas, os processos reprodutivos e, consequentemente, a quantidade de azeitona produzida.

A utilização de meios de diagnóstico para avaliar o estado de fertilidade do solo e o estado de nutrição da cultura é essencial para fundamentar as recomendações de fertilização. A observação de sintomatologia específica em determinado órgão da planta, especialmente nas folhas, pode constituir, por seu lado, um importante meio complementar de diagnóstico.

De uma forma geral, as deficiências em macro e micronutrientes afetam as trocas gasosas e, assim, o crescimento e o desenvolvimento das culturas, embora diferentes nutrientes possam influenciar aspectos específicos do metabolismo fotossintético. Um efeito comum do stresse nutricional é a redução na capacidade fotossintética devido a alterações na área foliar. O azoto é o principal constituinte do aparelho fotossintético, estando relacionado com a síntese de proteínas e regulação enzimática, bem como a partição e translocação de fotoassimilados. A deficiência em azoto reduz a expansão foliar pela redução do número de células e do decréscimo do seu volume. Outro nutriente fundamental é o fósforo, uma vez que está envolvido nos processos energéticos das células, na regulação de coenzimas e na partição e translocação de assimilados. Já no que refere ao potássio, nutriente associado ao equilíbrio osmótico das células, à ativação enzimática e ao metabolismo dos hidratos de carbono, encontra-se também relacionado com os processos de floração, de crescimento da azeitona e de formação do azeite. Para além dos três nutrientes atrás indicados, que são os que mais frequentemente limitam o crescimento vegetal, é importante conhecer quais os efeitos provocados por situações de escassez dos restantes.

O objectivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da carência de macro e micronutrientes (azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, ferro, manganês, zinco, cobre e boro) sobre alguns parâmetros relativos ao crescimento e à fisiologia de oliveiras jovens, bem como sobre a manifestação de sintomas anómalos.

Em 2013 foi instalado um ensaio em vasos do tipo subtrativo, em ambiente condicionado, com plantas da cultivar Cobrançosa. O ensaio foi delineado em blocos completos casualizados com quatro repetições, tendo sido considerados onze tratamentos experimentais: uma testemunha com adubação completa e dez tratamentos, a cada um dos quais se suprimiu um dos nutrientes em estudo. Em 2014 e 2017 foram efetuadas medições periódicas de parâmetros morfológicos como o comprimento de todos os ramos e o diâmetro do tronco, e de parâmetros fisiológicos relacionados com a atividade fotossintética, como a taxa de fotossíntese líquida aparente (Pn), a condutância estomática (gs), a transpiração (E) e o índice de SPAD (Soil Plant Analysis Development). As observações dos parâmetros fisiológicos foram efetuadas na primavera e no outono. Nos últimos dois anos avaliou-se também a produção de frutos.

Os resultados obtidos revelam que o tratamento sem azoto apresentou um acréscimo do crescimento dos ramos (diferença entre os valores registados em 2017 e em 2014) inferior aos dos restantes tratamentos e um menor aumento do diâmetro do tronco (Quadro 1).


No tratamento sem azoto registou-se uma produção nula de azeitona em 2016, e quase nula (1 g/planta) em 2017, valores estes significativamente inferiores (p0,05) aos da testemunha (79g/planta) e dos restantes tratamentos experimentais, o que corrobora a importância do azoto nos processos de floração e vingamento.

Em relação aos parâmetros fisiológicos, verificou-se, em todos os tratamentos experimentais, que a taxa de fotossíntese líquida aparente (Pn) e a condutância estomática (gs) foram sempre mais elevadas na primavera (Quadro 2), correspondendo a um estádio de maior desenvolvimento da cultura (crescimento vegetativo e floração). O mesmo ocorreu com os valores do SPAD, à exceção do observado no tratamento sem azoto.

Nas duas épocas consideradas, os valores mais baixos da Pn e da gs foram registados no tratamento sem fósforo, refletindo o papel crucial deste elemento nos processos fotossintéticos ao longo do ciclo.

Por seu lado, a ausência de aplicação de azoto não afetou a Pn, a gs e a eficiência do uso da água (WUE) registadas na primavera. Pelo contrário, no outono observou-se uma redução da Pn no tratamento sem azoto em relação ao tratamento com adubação completa.

No que se refere ao SPAD, o tratamento sem azoto apresentou os valores mais baixos, quer no outono quer na primavera, indicando menores teores de clorofila, o que se atribui ao facto de grande parte do azoto das folhas se localizar nas moléculas de clorofila.

O tratamento sem fósforo, apesar da redução da Pn, foi o que apresentou valores mais elevados de SPAD, reflectindo maiores teores de clorofila que poderão resultar de um espessamento das folhas. Efectivamente, uma coloração mais escura das folhas é associada à carência de fósforo devido a constrangimentos na expansão celular que resultam num maior número de células por unidade de área foliar.

Embora o tratamento sem potássio não tenha diferido significativamente do tratamento com adubação completa em nenhum dos parâmetros atrás considerados, observaram-se sintomas típicos da deficiência de potássio, ou seja, as folhas apresentaram uma coloração amarelada que evolui para necrose apical ou marginal das folhas com acentuada separação com o resto do limbo verde. Este aspecto inicia-se nas folhas mais velhas, podendo evoluir para as folhas mais jovens (Fig. 2). Observou-se, ainda, que o peso unitário da azeitona do tratamento sem potássio (1,7g) foi, em 2017, significativamente inferior ao do tratamento com adubação completa (3,2g). Considera-se que este comportamento estará associado à maior exigência da planta em potássio na fase de crescimento do fruto.

Conclusões

Os resultados obtidos neste estudo permitem confirmar a relevância do azoto nas funções associadas ao desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das árvores jovens de oliveira e mostram que o fósforo tem um papel importante no desempenho fotossintético ao longo do ciclo. No caso do potássio, destacam-se a presença de sintomas característicos de carência e a confirmação da sua influência nos processos associados ao crescimento da azeitona.


Cristina Sempiterno, Rui Fernandes, Paula Scotti, José Semedo, Luisa Peixoto, Isabel Pais, Mário Santos & M. Encarnação Marcelo

Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária,

I.P. cristina.sempiterno@iniav.pt



Comentários