publicado a: 2020-04-22

Fundão prevê queda de 50% na produção de cereja

Cerca de metade da habitual produção de Cereja do Fundão estará este ano perdida devido às condições meteorológicas “extremas” de final de março e abril, que causaram prejuízos muito avultados, disse hoje o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes.

“Tivemos condições climatéricas excecionais extremas que destruíram grande parte da produção e que teve um efeito devastador em, pelo menos, 50% da produção, sendo provável que este número até venha a ser superior”, frisou o autarca.

Segundo explicou, o nevão caído no final do mês de março, seguido de geada forte e temperaturas muito baixas, bem como a chuva intensa e a queda de granizo, em abril, levaram a que mais de metade da produção ficasse “arruinada”.

Se em anos normais a produção de cereja neste concelho supera as sete mil toneladas, este ano estará entre as três mil a três mil e quinhentas, “na melhor das hipóteses”.

A estimativa do município tem em conta o levantamento feito junto dos produtores e também um relatório da Direção Regional de Agricultura, que atesta as condições meteorológicas extremas que se fizeram sentir, com consequências “muito duras” e ainda difíceis de apurar a nível económico.

“Teremos uma campanha muito condicionada a todos os níveis”, apontou o autarca, sublinhando que o município está a acompanhar a situação, quer para ajudar a agilizar o acesso aos seguros, quer no sentido de encontrar um “apoio extraordinário” para esta fileira.

A questão das perdas será também apresentada à tutela numa visita que a ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, deverá fazer ao concelho durante a campanha, que deverá arrancar entre o final do mês e o início de maio.

Código de Boas Práticas para a colheita

Os produtores de Cereja do Fundão vão receber quatro mil máscaras para distribuir pelos trabalhadores, de modo a garantir uma “colheita mais segura”, iniciativa que também contará com um código de boas práticas para a prevenção da Covid-19.

“Queremos fazer uma campanha de colheita e de comercialização segura. Perante o que é a pandemia que vivemos e aquilo que são os seus desafios, era preciso reforçar um conjunto de normas e procedimentos que pudessem salvaguardar e diminuir o risco de contágio em todo o processo, desde a colheita, ao embalamento e expedição, até ao consumidor final”, afirmou o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes.

O documento foi elaborado em conjunto com o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN) e com a Universidade da Beira Interior, e apresenta um conjunto de regras que devem ser seguidas pelos produtores.

Uma das ações prevista prende-se com a distribuição de máscaras reutilizáveis aos produtores e trabalhadores, que serão produzidas e distribuídas por uma rede solidária local, de acordo com as normas divulgadas pelas entidades públicas.

O programa das máscaras solidárias em tecido foi criado pelo projeto “Matriz” quando a pandemia chegou a Portugal e funciona em regime de voluntariado, englobando já cerca de 35 costureiras e vários residentes no Centro de Migrantes do Fundão, bem como o município e empresas que forneceram tecidos e materiais.

“Queremos ajudar a conferir alguma segurança às pessoas que normalmente vão para a apanha da cereja”, explicou Virgínia Batista, técnica do projeto “Matriz”.

Esta responsável apontou a importância que o trabalho na apanha da cereja tem para ajudar algumas famílias a fazer face às dificuldades e destacou a relevância de que tal possa continuar a acontecer da forma mais segura possível.

Uma ideia partilhada por Paulo Fernandes, que frisou a “vantagem” de estas máscaras serem “reutilizáveis” e poderem durar mais tempo, ao contrário das cirúrgicas que têm de ser trocadas constantemente.

O autarca também destacou as várias medidas presentes no novo código, que aconselha práticas como o respeito pela quarentena para trabalhadores que cheguem de fora, a recomendação de medições diárias de temperatura ou a implementação de horários diferenciados de saída e entrada.

As ações a adotar ao nível dos motoristas, dos fornecedores ou as questões da higiene e segurança nas centrais hortofrutícolas estão igualmente contempladas, tal como o reforço das normas que já eram seguidas ao nível da higiene e segurança no manuseamento e embalamento do fruto.

“Regras apertadas” que visam reforçar a confiança do consumidor e mostrar que a Cereja do Fundão é sinónimo de um “consumo seguro”, de um “trabalho seguro” e de práticas social e ambientalmente responsáveis”, frisou o autarca.

Apesar dos custos acrescidos que implicará para produtores, o código é encarado como uma “mais-valia” e uma “ajuda”, tal como referiram Paulo Ribeiro, da Cerfundão, e Gonçalo Batista, da Appizêzere, duas organizações de produtores locais que subscrevem e recomendam que todos sigam este manual de boas práticas.

O Fundão, no distrito de Castelo Branco, tem atualmente entre 2.000 a 2.500 hectares de pomares de cerejeiras e, de acordo com a autarquia, a fileira da produção de cereja neste concelho (que inclui subprodutos e negócios associados) já representa mais de 20 milhões de euros por ano na economia local.

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