publicado a: 2017-08-08

Olivicultores do Alentejo preocupados com bactéria que destrói oliveiras

Olivicultores do Alentejo preocupados com bactéria que destrói oliveiras

Os olivicultores do Alentejo estão preocupados com a propagação da bactéria "xylella fastidiosa", que destrói várias plantas e árvores, como oliveiras, e já chegou a Espanha, e pedem apoios para ajudar os agricultores que sejam afetados.

"Com certeza que é um motivo de preocupação", mas "não me parece que haja já um estado geral de alerta extremo", disse hoje à agência Lusa Henrique Herculano, diretor técnico do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), que congrega cerca de 50% da produção de azeite da região.

Devido à "evolução" que a doença provocada pela bactéria fez em Itália, onde foi detetada pela primeira vez na Europa, em 2013, até Espanha, onde, no passado mês de junho, foi identificado o mais recente foco, "é mais do que justificada a preocupação", frisou.

"Até porque ainda não existe cura para a doença", que "mata" plantas e árvores e é "extremamente difícil de controlar", devido ao "espetro alargado de plantas que podem servir de hospedeiras ao mosquito" que transmite a bactéria, explicou.

A título de exemplo, disse, "basta um turista comprar uma planta ornamental infetada num viveiro sabe-se lá onde e trazê-la desconhecendo o problema que pode estar a criar".

Também em declarações hoje à Lusa, Filipe Cameirinha, diretor da Olivum - Associação de Olivicultores do Sul, que representa olivicultores responsáveis por 30 mil hectares de olival no sul de Portugal, disse que "há preocupação, mas ainda não há motivos para alarmismos, porque a bactéria tem sido sobretudo identificada em plantações de olivais e outras culturas mal tratadas ou abandonadas".

"Andamos a acompanhar a evolução da 'xylella fastidiosa' e, atualmente, ainda não foi identificado nenhum foco em Portugal, mas sabemos que a bactéria já chegou a Espanha e é uma questão de tempo até chegar" a território português, disse Filipe Cameirinha.

Por isso, "temos de estar preocupados e adotar medidas de contingência" e, atualmente, "a principal coisa que os agricultores podem fazer é continuar a tratar bem os olivais para evitar focos de contaminação", defendeu.

"À partida, se os agricultores tiverem os olivais bem tratados, com as medidas profiláticas necessárias, estão a fechar a porta à bactéria", mas "é uma questão de tempo até chegar a Portugal e, "a partir daí, é tentar controlá-la da melhor forma possível".

De acordo com Henrique Herculano, atualmente, as medidas em prática na União Europeia são "sobretudo preventivas", ou seja, "estão proibidas a deslocação de plantas vetores e a importação de material vegetal de zonas sensíveis".

Segundo a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), nos casos em que são detetados focos da bactéria, são tomadas medidas de erradicação previstas na legislação comunitária, ou seja, é obrigatório aplicar tratamentos inseticidas contra os vetores da bactéria na plantação afetada e zona circundante, destruir plantas ou árvores infetadas e delimitar a área afetada e uma zona tampão de 10 quilómetros de raio com prospeção intensiva das culturas existentes.

"Tendo em conta que não existe cura para a doença, a melhor solução é a sua erradicação", que se faz "erradicando as plantas infetadas, porque o mosquito, para ser veículo transmissor, precisa de contacto com plantas infetadas", explicou Henrique Herculano.

Num ofício divulgado no passado dia 30 de junho sobre o recente foco de "xylella fastidiosa" detetado em Espanha, a DGAV reitera o alerta aos agricultores para notificarem "de imediato" os serviços de inspeção fitossanitária da direção regional de agricultura e pescas da respetiva área caso observem sintomas suspeitos da bactéria, frisando que "o sucesso na erradicação de um foco depende da sua deteção precoce".

Os dois responsáveis fazem o mesmo alerta, defendendo que é "muito importante" um agricultor notificar as autoridades logo que detete um foco da bactéria.

"Para o combate à doença se tornar eficaz, os olivicultores devem fazer o controlo dos respetivos olivais" e notificar as autoridades caso detetem um foco da bactéria, mas "não podem ser prejudicados por isso, mas sim indemnizados", defendeu Henrique Herculano.

"As medidas de erradicação da doença são muito severas" e, atualmente, não há medidas para indemnizar e compensar os afetados, disse Filipe Cameirinha, referindo que, por isso, "é possível que os agricultores, sabendo que não vão ter ajudas, tenham dificuldade em notificar focos de infeção".

"Não estando em causa a idoneidades dos agricultores, compreende-se a reserva de um agricultor em denunciar um foco às autoridades, sabendo que depois vão impor o abate e a destruição de vários quilómetros de olival sem qualquer tipo de indemnização ou apoios para replantações", disse.

Os responsáveis defendem mecanismos de indemnização ou compensação, como apoios a replantações, para os agricultores que tenham de destruir plantações afetadas por focos da doença.

Filipe Cameirinha disse que a Olivum tem tido conversações com o Ministério da Agricultura no sentido de se começaram a tomar providências, os olivicultores seus associados estão a tomar medidas de prevenção e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária tem equipas no terreno a controlar os olivais para detetar eventuais focos.

"A propagação da doença é relativamente lenta e, por isso, a deteção pode não ser imediata", mas já se conhecem os impactos da doença e, tendo em conta a importância do olival para Portugal, "seria importante adotar soluções para evitar o problema e não só implementar medidas corretivas depois do desastre", disse Henrique Herculano, defendendo que "o problema deve ser estudado e a solução vir ao nível da Comissão Europeia".

Segundo a DGAV, a "xylella fastidiosa" é uma bactéria que "ataca uma vasta gama de espécies vegetais", como plantas ornamentais e árvores, como oliveiras, videiras, amendoeiras e sobreiro, e é "um dos principais problemas fitossanitários emergentes das últimas décadas".

A bactéria, que ficou "por muito tempo" confinada ao continente americano, "causando surtos graves da doença", foi detetada pela primeira vez na Europa em 2013, em oliveiras adultas, na região de Apúlia, em Itália, onde "devastou uma extensa área de olival".

Em 2015, foram detetados focos em plantas ornamentais na Córsega e no sul de França e, em 2016, em plantas de aloendro na Alemanha e em plantas de cerejeiras num viveiro nas Ilhas Baleares, em Espanha.

O mais recente caso de presença da bactéria na Europa foi confirmado no passado mês de junho num pomar de amendoeiras em Alicante, na região de Valência, em Espanha, tratando-se da primeira deteção no território continental espanhol.

Fonte: Diário de Notícias

Comentários