Os produtos biológicos são bons para o ambiente mas a vantagem nutritiva ainda está por provar
O especialista em nutrição Pedro Graça afirma que os produtos biológicos são “mais amigos do ambiente”, embora falte provar as suas vantagens nutricionais em relação aos tradicionais, mas esta visão é considerada redutora pelos produtores.
“Temos boa evidência científica, que são produtos mais amigos do ambiente, mas do ponto de vista exclusivamente nutricional ainda não há muita informação que prove uma grande diferença entre os produtos da agricultura tradicional e da agricultura de produção biológica”, disse à agência Lusa o diretor da Faculdade de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), Jaime Ferreira, “a questão dos nutrientes é muito redutora”.
“Eu posso tomar um comprimido com todos os nutrientes que hoje achamos suficientes para ser saudável e resolvia o assunto, só que sabemos que não é assim”, disse Jaime Ferreira.
Segundo o presidente da Agrobio, um produto biológico tem “claramente mais qualidade”, não só pela forma de produção com recurso a menos água”, como pelo facto de não ter contaminantes, pesticidas e outras substâncias como adubos químicos.
“Logo por aí temos uma garantia diferente para o consumidor e, portanto, não podemos estar só a falar se tem o nutriente A, B ou C. É a qualidade total do produto que conta para o consumidor”, defendeu Jaime Ferreira.
A venda de produtos biológicos tem vindo a crescer de forma sustentada nos últimos anos, com a procura a ser atualmente “bastante maior do que a oferta”, segundo o presidente da Agrobio.
Para o nutricionista Pedro Graça, esta procura é “uma boa notícia”, porque mostra que os portugueses estão dispostos a pagar mais para terem produtos produzidos de uma forma mais sustentável.
Por outro lado, “a gama de produtos biológicos disponível aos portugueses é hoje mais ampla, mais alargada, mais diversificada e isso faz com que pessoas também comprem mais”.
A redução do preço destes alimentos é outra razão apontada pelo ex-diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde para este crescimento.
“No passado os preços eram um obstáculo à compra frequente destes produtos. Ao reduzirem-se e aproximarem-se dos da agricultura convencional faz com que exista mais procura”, defendeu.
Por detrás desta procura também estão razões de sabor, de proteção do ambiente e de saúde. Apesar de a agricultura convencional também utilizar práticas que permitem proteger o cidadão, “garantidamente os produtos de produção biológica são mais seguros” do ponto de vista do ambiente.
“Agora do ponto de vista nutricional não há ainda uma informação relevante que nos permita dizer ‘consuma estes produtos que vão ter mais vitaminas e mais minerais’”, reiterou Pedro Graça.
Segundo o presidente da Agrobio, há cada vez mais locais de distribuição destes produtos, mas “a questão essencial” é que “não há produção suficiente” para atender à procura, o que contribui para o aumento do preço.
“Neste momento, infelizmente, o produto biológico ainda é visto como um produto de luxo só ao alcance de algumas pessoas e isso não pode ser”, até porque as produções não são necessariamente muito mais caras, disse Jaime Ferreira.
Mas muitas vezes o valor final do produto biológico também é inflacionado pela distribuição.
“O consumidor não se importará de pagar mais 10%, 20% ou 30% por um produto biológico do que pelo convencional, mas se for o dobro ou o triplo isso torna-se insustentável para muitos consumidores”, disse Jaime Ferreira.