publicado a: 2017-12-15

Pedrógão Grande: Agricultura familiar retoma produção, mas alguns residentes ainda hesitam

Algumas famílias que praticam uma agricultura de subsistência na zona atingida pelos incêndios de Pedrógão Grande, em junho, retomam a produção lentamente, mas outras hesitam devido a fatores diversos.

Numa região montanhosa que abrange municípios dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco, que perdeu sempre população nas últimas décadas e onde predomina o minifúndio, incluindo nas explorações florestais, a agricultura familiar tem ainda um peso importante na vida de milhares de pessoas.

Entre os habitantes com culturas dizimadas - como olivais, pomares e vinhas, além de animais, alfaias e equipamentos diversos, devido aos incêndios que eclodiram em Pedrógão Grande e Góis, no dia 17 de junho -, alguns admitem desistir devido à idade, ao passo que outros mais jovens prosseguem a atividade, mas questionam as ajudas e enfrentam novos problemas, designadamente a devastação causada pelos veados.

Carlos Rodrigues reside no Torgal, concelho da Castanheira de Pera, e possui uma propriedade com 31 oliveiras que foram queimadas.

Na sequência de uma candidatura aos apoios do Estado, por ter perdido o olival, cujas árvores "tinham entre 50 e 100 anos", foi ressarcido por cheque em novembro.

"Lá mais para o verão, vou ver o que fazer", disse à agência Lusa Carlos Rodrigues, que, aos 73 anos, pondera com reservas a eventual plantação de oliveiras novas no seu terreno.

O reformado alegou que tem quatro filhos, três a viver em Lisboa e Vila Nova de Gaia, e que "nenhum deles tem ligação" à atividade agrícola.

Paulo David, de 45 anos, mora na Graça, no concelho de Pedrógão, sendo coproprietário de terrenos que partilha com outros familiares, onde arderam cerca de 100 oliveiras, mais de 300 videiras e quase 50 árvores de fruto.

A família recorreu aos apoios do Ministério da Agricultura. "Segundo a tabela, tínhamos direito a 3.700 euros, mas recebemos um valor muito inferior", de 1.067 euros, lamentou.

"É uma diferença muito grande, não percebo porquê", disse Paulo David à Lusa, ao admitir repor o nível de produção, "se tiver apoio suficiente" para isso.

Na Ferraria de São João, em Penela, Arlete Santos e o marido, Manuel Santos Jorge, tinham uma vitela, três ovelhas e várias galinhas.

O incêndio destruiu-lhes uma área florestal, uma casa de arrumos onde guardavam ferramentas e materiais diversos do sistema de rega, rede de vedação, batatal e outras culturas.

"Só me queixei da casa, mas ainda não recebemos nada do Ministério da Agricultura", afirmou Arlete, estimando que os prejuízos totalizam "vários milhares" de euros.

A produtora, de 52 anos, contou que a vitela foi abatida, "por falta de pasto", mas o casal manteve os outros animais.

A família possui um dos maiores terrenos da Ferraria de São João, com 5.000 m2 de área, bem como outras parcelas no Cercal, uma aldeia vizinha, já no concelho de Figueiró dos Vinhos.

"Nalguns terrenos semeámos novos pastos. Só que temos os veados com fome a dar-nos cabo de tudo", revelou.

Na Ferraria de São João, que integra a rede turística Aldeias do Xisto, José Adelino Gonçalves, de 48 anos, é dono de 25 cabras e muitas estão prenhes.

O criador perdeu as pastagens e já recebeu ajuda do Ministério da Agricultura para repor vedações.

Da sua parte, reconheceu à Lusa, "estão reunidas as condições" para prosseguir com normalidade a atividade pecuária, após dois animais terem morrido de doença na sequência do incêndio.

Na aldeia, houve no passado um rebanho comunitário com mais de mil caprinos, mas "hoje não chegarão certamente a uma centena", de acordo com Luís Matias, presidente da Câmara de Penela.

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