publicado a: 2020-03-24

Preço da carne de frango aumentou 30% numa semana

Dependência do país de produtos importados revela fragilidade que pode fazer faltar bens essenciais.

As carnes de frango e de porco vão começar a faltar na abundância a que nos habituámos. Nas últimas duas semanas, o preço disparou entre 10% a 30% uma vez que a maioria provém de Espanha.

Nos legumes e nas frutas, a situação "não é muito melhor, pois importamos muito do que comemos", incluindo a maioria dos cereais para a ração dos animais e para o pão, e as sementeiras da primavera podem estar ameaçadas pela quarentena (ver ao lado).

Em contrapartida, os pescadores não conseguem fazer chegar o produto fresco ao consumidor - com o encerramento de mercados, lotas e restaurantes -, pelo que os preços estão a cair.

DEPENDÊNCIA

Um quilo de peito de frango que, sem promoções, custava 4,99€ no início do mês, nos talhos de rua, passou a ser vendido a 6,49€ (+30%) neste fim de semana. Lombinhos de porco, que também custavam 4,99€ por kg até há pouco tempo, fora dos hipermercados, agora custa 5,99€ (+20%).

A carne de vaca de 5€ desapareceu dos expositores (a mais barata é de 6,5€, +30%). "A procura é maior do que a oferta e 60% da carne de porco que consumimos vem de Espanha. Enquanto não estiverem melhor [da Covid-19] e reabrirem as empresas que estão fechadas, os preços da carne vão continuar a subir", vaticinou Marianela Lourenço, secretária-geral da Associação de Comerciantes de Carne.

"Não se trata de especulação dos comerciantes, porque os talhos têm tentado absorver parte dos aumentos [e não têm contratos anuais com os fornecedores, como os híperes], mas já há falta de carnes como o peru e só o novilho subiu menos porque vamos tendo produção", explicou a responsável.

Não havendo carne, podemos comer mais peixe? Na maioria lota do país, em Peniche, os preços não param de cair. No caso do peixe "grosso" como o cherne, "o preço era 25 euros por quilograma e agora está a 15 euros", segundo António Pereira, mestre do arrastão Sagitarius . Sem mercados municipais e com restaurantes fechados, os pescadores pedem ajuda ao Governo para escoar produto.

"A solução que a Docapesca nos arranjou foi a de sermos nós a comprar o nosso próprio peixe e sermos nós a vendê-lo. Não cabe na cabeça de ninguém, neste momento de pandemia, sermos nós a vender o pescado, de porta em porta", denunciou Augusto Porto, presidente da Associação de Pescadores do Rio Minho e do Mar, preocupado com a situação financeira de 300 famílias que dependem do peixe.

PEQUENAS SOLUÇÕES

Nos mercados abastecedores, os grossistas abriram portas aos consumidores para tentar escoar toneladas de legumes e frutos frescos, além de outros bens. Com restauração, feiras e mercados fechados, o online também ajuda. Desde a semana passada, o MercaChef.pt passou a aceitar encomendas online de particulares e está a incluir produtos de "micro e pequenas empresas que estão em dificuldade para escoar os seus produtos, em virtude dos seus clientes estarem fechados (restaurantes, hotéis, cafés, etc.)", como explica Ricardo Wallis, detentor da marca. As entregas são feitas em cerca de 48 horas, gratuitamente, em todo o país.

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