publicado a: 2019-03-09

SOS Clima. Corujas + drones + tecnologia da Tesla? Sim, nas vinhas da família Jackson

A família Jackson faz mais vinho do que Portugal inteiro. E tem nas suas vinhas um laboratório vivo da boa convivência entre a tecnologia de ponta e práticas ancestrais. Tudo pelo clima e pela sustentabilidade.

O aquecimento global não foi certamente uma das preocupações de Jess Jackson, um advogado de São Francisco que em 1974 comprou um terreno no Norte da Califórnia para ter a sua própria vinha. Mas os filhos, hoje à frente do negócio da família, assumiram a sustentabilidade como uma bandeira e trabalham desde 2008 para reduzir as emissões de carbono da empresa combinando práticas ancestrais e tecnologia de ponta.

É assim que nesta empresa com propriedades nos EUA (Califórnia e Oregan), Chile, África do Sul, Austrália, França e Itália, as corujas e os falcões convivem naturalmente com drones e tecnologia da Tesla, sempre em nome do ambiente, seja para controlar doenças na vinha, afastar roedores e outros animais indesejados, reduzir consumos ou evitar desperdícios na rega.

Mais de quatro décadas de experiência tornaram esta família sensível às variações do tempo. E deram-lhe uma certeza: “Está a ficar mais quente e mais seco e isso pode ser um problema grave”, garante Katie Jackson, representante da segunda geração e responsável pela sustentabilidade na Jackson Family Wines, que veio partilhar a sua experiência na Climate Change Leadership, no Porto, e assinar o Porto Protocol.

Fala da seca e dos incêndios recentes na Califórnia e do granizo em França como sinais da mesma realidade: “Estamos a ver o clima a mudar e isso é um desafio para quem faz vinho”.

A TRANQUILIDADE DE CONTAR COM A FRESCURA DA COSTA

É verdade que na vinha, como na agricultura em geral, “nunca sabemos com o que podemos contar em cada ano”, o que torna a questão da fiabilidade das previsões meteorológicas crucial. Mas é sempre possível trabalhar para consumir menos água e menos energia, aproveitar mais a água da chuva, com reservatórios espalhados pela propriedade, explorar as energias renováveis, designadamente a solar, combinando isto com um sistema de armazenamento de energia desenvolvido pela Tesla, monitorizar as emissões de CO2.

Cem corujas? Ajudam a afastar os esquilos. Ferramentas sensíveis que medem a seiva das videiras e transmitem os dados até aos computadores na sede da empresa? Determinam com rigor as vinhas que precisam de água e o nível de água necessário. Drones com sensores? Monitorizam as plantas pela cor da vegetação e detetam coisas práticas como a falta de humidade ou de nutrientes. Luz ultravioleta? Pode ajudar a garantir a higienização dos tanques.

Neste momento, nas suas vinhas nos EUA, a pegada está nos 2,1kg CO2/ litro de vinho. A pegada de carbono já foi reduzida em 30% desde 2008 e há uma série de objetivos internos definidos até 2021, como garantir que as fontes internas de energia renovável respondem por metade das necessidades da operação de vinificação.

“Temos muitas frentes de trabalho, sempre com o foco na qualidade do vinho. E, para isso, também temos de pensar no amadurecimento, nas castas mais resistentes e indicadas”, admite Katie que apesar de todos os desafios que tem pela frente acredita ser possível manter e até melhorar a qualidade dos seus vinhos e confia no facto de a família ter muitas vinhas junto à costa, onde “será mais fácil mitigar os problemas trazidos pelas alterações climáticas”.

No entanto, confessa, investir em Portugal “nunca foi equacionado”.

Comentários