publicado a: 2019-10-21

Três espécies de insetos comestíveis à espera de lei em Portugal

Dia Mundial do Inseto Comestível assinala-se na quarta-feira

O mundo tem pelo menos duas mil espécies de insetos comestíveis e em Portugal a indústria está a investir em três, grilo, tenebrião e gafanhoto, à espera de que a lei permita produção para pessoas e animais.

O Dia Mundial do Inseto Comestível assinala-se na quarta-feira e a associação do setor não tem dúvidas que ele vai fazer parte da alimentação do futuro. Mas diz que no presente, por causa de leis da União Europeia, a vida não está fácil para investidores na maior parte dos países.

A Portugal Insect – Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insetos vai assinalar a efeméride no próximo sábado na Universidade Nova de Carcavelos, arredores de Lisboa, com uma conferência sobre temas como insetos na alimentação humana, enquadramento legal, aplicações culinárias ou insetos nas ementas das escolas.

A propósito da iniciativa desta semana o responsável, Rui Nunes, afirmou que em Portugal já existem há vários anos alguns produtores de insetos, juntos na associação que foi criada no ano passado, e lembrou também que o inseto como fonte de proteínas já é um tema na agenda da FAO – Organização das Nações Unida para a Alimentação e Agricultura desde 2013.

Em maio de 2013 a FAO defendeu num relatório que os insetos consumidos anualmente por 2.000 milhões de pessoas são uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com vantagens para a saúde e para o ambiente.

Num planeta com nove mil milhões de pessoas em 2050, “onde vamos arranjar fontes proteicas?”, questiona agora Rui Nunes, acrescentando que dentro do milhão de espécies de insetos há duas mil espécies “comprovadamente comestíveis”, que já são consumidas por milhões de pessoas, embora os europeus ainda tenham “alguma relutância”.

Em Portugal os produtores estão a investir, para alimentação humana e animal, em algumas espécies de grilos, no tenebrião, a chamada larva da farinha, e mesmo gafanhotos.

Por uma questão de segurança alimentar, explica Rui Nunes, a produção tem de ser controlada e em cativeiro, de forma segura, O que acontece, diz, é que atualmente, por força de um regulamento europeu (2015/2283), não é permitido esse tipo de comercialização.

“O que está em causa é que para os insetos poderem ser consumidos tem de se apresentar dossiers de segurança alimentar. E ainda nada está aprovado”, explica Rui Nunes.

Mas o regulamento permite que países que antes da publicação já produziam insetos o possam continuar a fazer. E “hoje temos países onde é permitido comer insetos e há outra Europa onde é proibido porque ainda não estão aprovados os dossiers de segurança alimentar. Há uma Europa que permite produção e consumo e há uma Europa que não”, lamenta.

Na prática, diz na entrevista à Lusa, a Holanda, a Finlândia, o Reino Unido, a Dinamarca, a Bélgica e a Áustria podem produzir e consumir insetos, os restantes países não. E a Portugal Insect não se sente por isso representada pela associação europeia do setor (International Platform of Insects for Food and Feed – IPIFF), preferindo trabalhar, a nível interno, com as autoridades portuguesas.

Atualmente, alimentos a partir de insetos não são permitidos junto da população nem sequer podem servir para alimentar animais, exceto para aquacultura.

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