publicado a: 2015-08-13

Apicultura mostra-se sensível a fenómenos meteorológicos

Apontada por especialistas como um indicador biológico de desequilíbrio ambiental, a apicultura tem se mostrado sensível a fenómenos meteorológicos, o que estaria ligado ao declínio da população de abelhas observado recentemente em vários países. A cargo de uma equipa liderada pela Universidade de Ottawa, no Canadá, o estudo analisou quase meio milhão de registos de 67 espécies de abelhas nos últimos 110 anos, na América do Norte e Europa. A conclusão é de que elas perderam terreno nas áreas mais quentes, a Sul, e não estão a colonizar novas áreas, a Norte.

O presidente da AGA (Associação Gáucha de Apicultores) no Brasil, Adenor Furtado, afirma sentir saudades de quando o Rio Grande do Sul tinha as quatro estações bem definidas. A mudança na temperatura, segundo ele, “trava” a postura da rainha, que produz mais em ambiente de clima temperado, com temperatura entre 25 e 30 graus. Furtado diz que as mudanças começaram a ser percebidas de forma mais intensa há cerca de 15 anos. Em condições climáticas normais, as colmeias começam a ser alimentadas 60 dias antes do início da primavera. “Quando chegava ao final destes 60 dias, a colmeia já estava populosa, acima de 100 mil abelhas, pronta para a produção de mel”, recorda. “Hoje isso não acontece por causa dessa quebra de ciclo. A rainha não mantém a postura e para começar novamente demora muito tempo.”

Criado próximo dos apiários do pai, em Roca Sales, no Brasil, o produtor Nelson Vuaden, 50 anos, perdeu 300 colmeias na última campanha - quase um terço do total de mil que possui distribuídas em municípios da região. O problema foi o inverno muito húmido. Mas as altas temperaturas do verão também contribuem para reduzir a produtividade.

Embora as lamentações sobre o clima sejam unânimes entre os apicultores, este não é o único responsável pelo declínio da população de abelhas. O agrónomo Luis Fernando Wolff, da Embrapa Clima Temperado, também no Brasil aponta outros três fatores: a contaminação pelos fitofarmacêuticos aplicados, maneio inadequado e oportunismo dos inimigos naturais. Ao clima, porém, ele atribui importância superior a 25%. “Ele afeta não só a rotina e as atividades das abelhas em si, mas também a oferta de néctar e pólen” detalha. De acordo com o especialista, os desequilíbrios ambientais fazem com que as florações fiquem mais curtas ou não aconteçam. “Isso afeta diretamente a biologia das abelhas e também da flora apícola, mas principalmente os inimigos das abelhas, em especial os parasitas”, constata Wolff.

A abelha africanizada, espécie mais comum no Rio Grande do Sul (Brasil), até gosta do calor. O problema, segundo Wolff, é a frequência de eventos extremos, como o prolongamento de períodos de seca, inundações ou tornados. A queda no número de abelhas preocupa não apenas quem vive da produção de mel, já que a polinização é apontada em diversos estudos como fator de aumento de produtividade de diversos alimentos. “A grande maioria das plantas cultivadas pelos seres humanos tem benefícios ou necessidades de polinização dirigida pelas abelhas, de maneira que essa ausência de polinizadores coloca em risco e produtividade das culturas”, descreve Wolff.


Fonte: Meio Rural

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