publicado a: 2014-11-06

Caracterização e avaliação de populações portuguesas de figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica)

A O. ficus-indica poderá ser utilizada na alimentação de ruminantes desde que incluída num regime alimentar com forragens secas ricas em proteína bruta.

A figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica (L.) Mill.) é uma espécie com interesse para alimentação humana e animal, particularmente em áreas geográficas onde a disponibilidade de água é um fator limitante na atividade agrícola. Em condições limitantes de disponibilidade hídrica a figueira-da-índia, uma planta CAM, supera as plantas C4 e C3. Em regiões com clima marcadamente mediterrânico, com verões quentes e secos como acontece no Centro Sul e Sul de Portugal, a figueira-da-índia poderá ser utilizada durante o verão/outono como forragem, constituindo-se numa fonte alimentar alternativa para a produção de ruminantes. O presente trabalho teve como objetivos avaliar a produção de biomassa e a composição nutricional dos cladódios de 16 populações portuguesas e de 2 variedades melhoradas de O. ficus-indica, nos dois primeiros anos de crescimento e em condições de sequeiro. Em maio de 2012 foram plantados, na Escola Superior Agrária de Castelo Branco, num solo de baixa aptidão agrícola, cladódios de 16 populações de O. ficus-indica, provenientes de diferentes locais do Centro e do Sul de Portugal, e 2 variedades italianas (Gialla e Bianca), as quais foram utilizadas como termo de comparação. Para além do registo do número de cladódios por planta, a produção de biomassa foi estimada por métodos não destrutivos, através da determinação da área de cladódios por planta (uma face, cm2) e produção de matéria verde por planta (g), com utilização de equações obtidas por regressão linear. No estudo do valor nutritivo foram determinados os teores em matéria seca total (MS), cinzas, azoto total, proteína bruta (PB) e gordura bruta (GB) em amostras de cladódios com um ano (colhidos em setembro de 2013).


Produção de biomassa

No que se refere à produção de biomassa, da análise estatística de resultados, verificaram- se diferenças significativas entre as 18 populações para todas as variáveis nos 2 anos do ensaio. Analisando as 7 melhores populações, 04 (Portalegre), 05 (Arronches), 06 (Bianca), 07 (Gialla), 12 (Cacela-a-Velha), 13 (Monforte da Beira) e 14 (Idanha-a-Velha), para os dados do segundo ano do ensaio (670 dias após a plantação), os resultados variaram entre 9621,59 g (04, Portalegre) e 14199,10 g (07, Gialla), para o peso da matéria verde por planta (média 11902,40 g), entre 5555,99 cm2 (06, Bianca) e 8918,07 cm2 (07, Gialla), no caso da área de cladódios por planta (média 7027,965 cm2) e entre 14,20 (06, Bianca) e 26,13 (07, Gialla), para o número de cladódios por planta (média 18,47). Quatro populações nacionais 05 (Arronches), 12 (Cacela-a- Velha), 13 (Monforte da Beira) e 14 (Idanha-a- Velha), não diferem significativamente da variedade Gialla, no que se refere à área de cladódios e produção de matéria verde. Conclui-se que das 16 populações portuguesas em avaliação, é possível eleger um grupo de 4 ecótipos que se aproximam da variedade Gialla em termos de produção de biomassa. Este material vegetal tem interesse como ponto de partida para iniciar um programa de melhoramento desta espécie. Para densidades de 5000 plantas/ha, em sequeiro estima-se, ao segundo ano da cultura, uma produção de matéria verde próxima das 60 a 70 t/ha. 


Análise Nutricional

A análise nutricional das 5 populações com maior produção de biomassa permitiu obter os seguintes valores: MS 13,92%; cinzas 88,66 g/kgMS; PB 74,79 g/kgMS; GB 14,49 g/kgMS. Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas nos parâmetros cinzas e PB. Relativamente às cinzas, o ecótipo 13 (Monforte da Beira) apresentou o valor médio mais elevado (97,55 g/kgMS) e o ecótipo 12 (Cacela-a-Velha) apresentou o valor médio mais baixo (80,12 g/kgMS). Relativamente à PB, o ecótipo 12 (Cacela-a- Velha) apresentou o valor médio mais elevado (82,52 g/kgMS) e o ecótipo 14 (Idanha-a- Velha) apresentou o valor médio mais baixo (68,01 g/kgMS). Os resultados obtidos indicam que a O. ficus-indica apresenta baixo conteúdo em MS e PB. Poderá ser utilizada na alimentação de ruminantes desde que incluída num regime alimentar com forragens secas ricas em PB. Das populações mais produtivas, o ecótipo 12 (Cacela-a-Velha) parece ser o mais adequado para a alimentação de ruminantes devido ao maior conteúdo em PB. Está em curso o estudo das referidas populações no que se refere à produção de fruto para alimentação humana e sua análise qualitativa. 

Para falar de novos agricultores e de novas culturas em Portugal é quase imperativo falar em Idanha-a-Nova e no projeto da Incubadora de Empresas de Base Rural lançado pela autarquia na Herdade do Couto da Várzea, popularizada pela campanha “Em Idanha há lugar para ti. Não Emigres, Migra!”.

Foi lá que conversámos com António Fonseca que, como outros “vizinhos” trocou a vida da capital pela do interior. Ao longo desta transição foi retomando contacto com várias culturas, incluindo a da figueira-da-índia, que acabou por ser a opção no momento decisivo. Hoje é vice- presidente da Associação dos Profissionais de Figo-da-Índia (APROFIP/Opuntias Portugal) e, enquanto produtor e investigador, vai apresentar uma comunicação nas Jornadas Ibéricas da Figueira-da-Índia que vão acontecer na vila raiana nos dias 17 e 18 de outubro.


Figo D’Idanha criada para prestar assessoria

Há cerca de ano e meio criou a empresa Figo D’Idanha, sob chancela da qual está a desenvolver um trabalho direcionado para a assessoria. Objetiva fazer a gestão, plantação e exploração do figo-da-índia, o que já acontece num pomar de 20 hectares e provavelmente no decorrer do próximo ano ultrapassará a meia centena. Para tal, António Fonseca foi à procura de conhecimento sobre a cultura e hoje não tem dificuldade em contrariar alguns “mitos”, como por exemplo o de que a figueira não necessita de ser regada.

A Figo d’ Idanha possui um viveiro (três hectares), onde produz plantas e serve também de laboratório onde estão a ser realizadas experiências ao nível das várias práticas culturais e cujos resultados vão ser apresentados nas Jornadas.

Outra área onde a empresa também quer intervir é na comercialização e para isso desenvolveu já contactos com a indústria transformadora e com a distribuição, não só nacional como externa. Já tem alguns mercados identificados e expectantes, nomeadamente o mercado alimentar humano (fruta desidratada) e a indústria farmacêutica. O produto fresco não é o primeiro objetivo e por várias razões, justifica o produtor, “desde logo porque o mercado é dominado pelos italianos, mesmo apesar de não terem a maior área de plantação. Depois em Portugal, um pouco à semelhança do resto do mundo, com exceção do México, não há uma tradição generalizada de comer figo-da-índia fresco”.

O produtor tem ainda a ambição de conseguir criar em Portugal, concretamente na região de Idanha-a-Nova, uma Denominação de Origem Protegida para este fruto, à semelhança do que já acontece em Itália.


“Condições para produzir existem, mas não se deve entrar em euforias injustificadas”

Sobre a cultura em Portugal, António Fonseca reconhece que o país tem ótimas condições para produzir e considera legítimo embora precoce, falar-se em fileira. Mas pede cautela. Defende que primeiro é preciso dimensão, que ainda não existe, e para ter dimensão é necessário mercado, que também ainda não há. Mas voltando às condições vantajosas de Portugal, reforça que, utilizando as técnicas adequadas é possível criar uma janela de trabalho de agosto a dezembro. É portanto uma boa opção, mas “sem ilusões”, adverte mais uma vez. Diz tratar-se de uma cultura trabalhosa que necessita de muita atenção. Pela perceção que vai tendo admite que apenas explorações a partir de três ou quatro hectares é que terão viabilidade económica.


Cinco a oito anos para o pomar produzir em pleno

Outras informações que a experiência lhe permite avançar é que a produção em pleno se atinge no intervalo entre o quinto e o oitavo ano. Com a melhoria das técnicas de produção a expectativa é que se atinjam mais do que as 20 toneladas por hectare, de acordo com a experiência de outros países. A colheita por enquanto é manual, embora existam algumas experiências ainda rudimentares para a “mecanização” do processo. É de esperar portanto que seja uma cultura que venha a utilizar muita mão-de-obra no futuro. A grande dificuldade é mesmo a retirada dos picos. 


Fonte: Voz do Campo / Agrociência

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