publicado a: 2018-11-12

Valorização dos compostos minoritários do azeite

Desde 2009 que o CEBAL investiga as propriedades biológicas de componentes minoritários do azeite, com particular destaque para o hidroxitirosol.
De acordo com estudos já publicados, o tratamento de células humanas de cancro da mama fenótipo triplo negativo com um extrato rico em hidroxitirosol, potencia a ação de um reconhecido agente quimioterapêutico, o 5-FU (5-Fluorouracilo), com uma potencial resposta terapêutica.

As recentes notícias disponibilizadas pelo Sistema de Informação de Mercados Agrícolas dão conta que a campanha 2017/2018 superou os volumes de produção, atingindo a quota das 120 mil toneladas. A mesma fonte refere ainda que no primeiro trimestre de 2017/2018 as exportações de azeite cresceram 30% em volume, e 54% em valor. Inquestionavelmente, a produção de azeite ganha diariamente uma nova expressão nacional, sendo reconhecido pela sua excelente qualidade. Manter a tipicidade deste produto é fundamental, e muito desafiante. A manutenção da tipicidade poderá ser conseguida com o incremento da introdução de mais variedades autóctones, com maior aptidão produtiva, mas também com características bioquímicas diferenciadoras dos azeites produzidos.
No CEBAL – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-alimentar do Alentejo, um dos parceiros do projecto OLEVALOR, liderado pela Universidade de Évora (Investigador Responsável Augusto Peixe*), que visa a valorização das variedades de oliveiras Portuguesas, o azeite virgem extra é uma matriz em que muito se tem investido no seu estudo. Da associação do consumo de azeite, e os benefícios para a saúde, inequivocamente necessitamos de mencionar os tão conhecidos compostos fenólicos, que apesar de se tratarem de compostos minoritários, presentes na fracção aquosa dos azeites, são os principais preventores da oxidação lipídica, prevenindo assim o indesejável aumento do stress oxidativo. Esta associação dos compostos fenólicos do azeite virgem extra, com a prevenção da oxidação lipídica foi ainda elevada com a alegação para a saúde por parte da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, proporcionando várias oportunidades de valorização no que diz respeito à qualidade dos azeites virgem extra.


Cromotograma de um perfil fenólico de azeite extra virgem

Tendo por base a importância que estes compostos representam para a saúde, tem sido de especial interesse no CEBAL a caracterização do perfil fenólico de diferentes variedades de azeite, com especial atenção para as variedades tradicionais portuguesas, tais como a “Galega vulgar”, “Cobrançosa”, “Verdeal Alentejana”, “Cordovil de Serpa”, “Azeiteira”, “Blanqueta” e “Carrasquenha de Elvas”. Às amostras de azeite virgem extra monovarietais é realizada uma extração da fração aquosa, a qual é seguidamente analisada por cromatografia líquida de alta pressão (HPLC-UV), onde um total de 9 compostos fenólicos são individualmente identificados e quantificados.

Estrutura química do composto fenólico hidroxitirosol

Dentro do total de compostos fenólicos analisados, é sobre o hidroxitirosol que recai a maior atenção, sendo este um dos compostos mais estudados e com maior associação aos efeitos antioxidantes dos azeites virgem extra. Sendo o hidroxitirosol um composto resultante da conversão natural da oleuropeína (composto fenólico muito abundante nos estados iniciais da maturação da azeitona, estando também presente em azeites jovens mais verdes), torna-se também de elevada importância a avaliação dos níveis de oleuropeína nos azeites. No presente o CEBAL está capacitado para responder a solicitações de caraterização do perfil fenólico de azeites, com indicação quantitativa de cada um dos compostos fenólicos em estudo, estando a desenvolver esforços para expandir a sua capacidade analítica, no que respeita à fração fenólica do azeite.
Funcionando estes compostos fenólicos como indicadores do grau de proteção antioxidante dos azeites virgem extra, o CEBAL tem em curso a avaliação bioquímica do comportamento do perfil fenólico de azeites ao longo do tempo, simulando condições controladas de luz e temperatura. O objetivo é avaliar a estabilidade oxidativa, através do estudo do perfil químico e biológico, dos azeites monovarietais em estudo (“Galega vulgar”, “Cobrançosa”, “Verdeal Alentejana”, “Cordovil de Serpa”, “Azeiteira”, “Blanqueta” e “Carrasquenha de Elvas”), da fração fenólica, bem como o seu efeito protector contra a oxidação lipídica, ao longo do tempo de prateleira de um azeite. A determinação de perfis mais estáveis apresenta um marco diferenciador, não só do ponto de vista bioquímico, como económico.

Por cada tonelada de bagaço extratado é possível extrair 27kg de compostos fenólicos, com potencial de utilização para a indústria alimentar e farmacêutica
Aparte de todo os estudos de caraterização do perfil fenólico de azeites, o CEBAL tem-se dedicado também à valorização biológica dos resíduos derivados da produção do azeite. Com particular destaque para o hidroxitirosol, desde 2009 que o Grupo dos Compostos Bioactivos do CEBAL se interessa por avaliar a disponibilidade destes compostos fenólicos em matrizes variadas, como sejam as águas residuais de lagares, bagaço húmido e o bagaço extratado. De acordo com resultados anteriores, e no âmbito de um projeto desenvolvido em parceria com uma empresa extratora de óleo de bagaço, por tonelada de bagaço extratado é possível extrair 27kg de compostos fenólicos, com potencial de utilização para a indústria alimentar e farmacêutica. De acordo com estudos já publicados, o tratamento de células humanas de cancro da mama fenótipo triplo negativo com um extrato rico em hidroxitirosol, potencia a ação de um reconhecido agente quimioterapêutico, o 5-FU (5-Fluorouracilo), com uma potencial resposta terapêutica.
Numa perspetiva de valorização dos recursos naturais, o CEBAL tem encarado a produção de azeite, como um recurso de elevadíssimo valor que importa estudar, e caraterizar em diferentes e complementares perspetivas. Com particular destaque à componente fenólica dos azeites, o CEBAL ao longo dos anos tem conseguido estreitar excelentes colaborações nacionais e internacionais, de modo a que parceria possa gerar novo conhecimento aplicável a um sector tão competitivo, e com um crescimento económico nacional muitíssimo relevante.

Autores:
Miguel Ferro1 e Maria F. Duarte1,2

1 Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL)/Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), Rua Pedro Soares, s/n, Apartado 6178, 7801-908 Beja, Portugal.
2 Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM), Universidade de Évora, Pólo da Mitra, 7002-554 Évora, Portugal.

*- 1 Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas / Instituto de Investigação e Formação Avançada – ICAAM/IIFA, Universidade de Évora, 7006-554 Évora, Portugal, apeixe@uevora.pt

Agradecimentos

Este trabalho é financiado pelo FEDER e por Fundos Nacionais, através do Programa Operacional Regional ALENTEJO 2020, Operação ALT20-03-0145-FEDER-000014 – “Valorização das Variedades de Oliveira Portuguesas (Oleavalor)”

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