publicado a: 2017-04-05

Trocas de sementes

Quando me convidaram para colaborar com esta publicação, perguntei que temas gostariam de ver focados para começar e a resposta foi: trocas de sementes e composto. A escolha do tema para as primeiras colaborações não podia ter sido melhor.

Há 6 ou 7 anos quando se começou a falar na polémica Lei das Sementes e depois de ler alguns artigos de opinião nos jornais onde se insinuava que iria passar a ser proibido trocar e dar sementes (havia até quem dissesse que ia ser proibido guardarmos as nossas sementes) resolvi organizar, a nível nacional, encontros de trocas de sementes para mostrar o quanto não concordava e não iria acatar, as regras da nova lei caso se confirmasse.

O primeiro desses encontros que organizei, foi no Parque da Cidade do Porto. Veio gente de muitos cantos do país e divertimos-nos imenso. No ano seguinte e porque chovia, mudamos de local mas foi mais um sucesso e o número de participantes triplicou. Começaram a trocar-se também plantas em vez de apenas sementes. Outra cidades copiaram a ideia e eu cheguei a ir a Troca de Sementes em Famalicão, Paredes de Coura (estas duas com eventos anuais) e Lisboa. Este ano já realizei também um evento em Vila Verde, Braga que contou com a presença dum grupo de galegos.

Porque estes encontros são importantes? São várias as razões. Primeiro, sem sementes não há Vida e por isso, nunca poderão estas ser monopólio de alguém ou de empresas. Segundo, com a introdução das variedades híbridas perdem-se variedades antigas e aclimatizadas a cada região. Terceiro, aumenta-se a diversidade genética da mesma variedade. Se várias pessoas cultivam a mesma variedade de feijão e não se encontram muito distantes entre si, é salutar trocarem de sementes desse feijão. Quarto, a convivência entre as pessoas que estão agora a começar a ter uma horta, seja numa quinta seja numa horta urbana comunitária, é muito importante. Neste encontros, trocam-se experiências e saberes que de outro modo não seria possível.

Quanto ao uso de sementes híbridas de polinização fechada ou seja, cuja polinização e é geralmente efectuada em duas plantas que nunca cruzariam entres si na Natureza, embora possam produzir melhor do que as sementes naturais, a verdade é que nunca foram feitos testes para saber que efeitos poderão ter na nossa saúde a médio e longo prazo. Sabemos que no caso do trigo, esse cruzamento com o centeio criou uma proteína nova que não é reconhecida pelo nosso sistema imunológico e que por isso, é um alvo a abater. Isso gera caos no sistema imunológico que depois não funciona quando realmente, precisamos dele. Além disso, o cérebro não tem também capacidade para a “ler” ficando impossibilitado de saber se a pessoa já começou o suficiente ou não o que pode levar à obesidade e necessidade de comer mais trigo.

Preservar variedades e as respectivas sementes é fácil desde que se conheçam alguns procedimentos. Por exemplo, saber se a variedade que temos cruza facilmente com outras e de que modo se processa a polinização (se é auto-fértil, se é feita pelas abelhas, pelo vento ou pelos dois). Caso cruze, temos de saber como evitar a polinização cruzada, criando condições para que isso não aconteça. Por exemplo, deixar apenas uma das variedades dar semente a cada ano ( saber a validade das sementes é aqui importante) ou fazer umas gaiolas e colocar à vez nas diferentes variedades. Polinizar à mão não deixando que nem o vento nem as abelhas o façam. No caso das abóboras, por exemplo, na noite anterior em que suspeitamos que as flores irão abrir, fechar duas a três masculinas e uma feminina com molas, elásticos ou uma corda e de manhã bem cedo, procedermos à polinização manual. Depois voltamos a fechar a flor feminina durante o resto do dia.

Outra coisa importante a saber é a quantidade de plantas que precisamos para que haja bom cruzamento e variabilidade genética. Como exemplo, das abóbora indicam que retiremos pólen de 3 machos de plantas diferentes para cada fêmea. No caso das cenouras, o ideal é deixarmos 20 embora 12 seja o mais habitual em hortas caseiras.

Outra parte importante é saber de que parte dos frutos retirar sementes. No milho, apenas os grãos do meio da espiga. Na cenoura, apenas as do meio da umbela. Nas couves, das vagens mais cheias (quanto maiores mais informação terão as sementes).

Sementes! Um mundo de extraordinárias descobertas e experiências e que no fim, nos fornecem os alimentos que comemos no dia a dia. Vale bem a pena aprender como as recolher e preservar.

Atimati Aroso

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