publicado a: 2021-06-30

Cigarrinha verde, a praga que preocupa os viticultores

A cigarrinha verde foi referenciada como praga da vinha na região do Alentejo, no final da década de 80 (Séc. XX). Desde então, este inseto picador sugador, alastrou a outras regiões vitícolas do país e é considerada atualmente inimigo-chave da cultura.

As espécies que predominam no nosso país são a Empoasca vitis, mais frequente nas regiões Norte e Centro, e a Jacobiasca lybica, com maior incidência na região Sul. As duas espécies apresentam boa adaptação a regiões com temperaturas estivais amenas a elevadas, pelo que, os Verões quentes dos últimos anos foram um dos fatores favoráveis ao aumento da pressão desta praga.

Estes insetos, pertencentes à família Cicadellidae, hibernam na forma adulta em plantas de folha persistente e iniciam a migração para a cultura em pleno desenvolvimento vegetativo da vinha. As fêmeas fazem a postura dos ovos na página inferior das folhas e após a eclosão surgem as primeiras formas juvenis do inseto, ninfas, que passam por 5 instares (2 larvares e 3 ninfais) até atingir o estado adulto. Durante este período, que dura aproximadamente 3 semanas, os insetos picam as nervuras e alimentam-se da seiva das plantas atacadas.

Figura 1 – Ciclo de vida da cigarrinha verde. (Extraído de: www.ascenza.pt/news/pragas-da-vinha-cigarrinha-verde)

Os estragos provocados na cultura traduzem-se inicialmente por deformações da superfície foliar, alterações na coloração das folhas e cloroses marginais que evoluem para necroses, de que resulta a morte das células e a redução da área fotossinteticamente ativa.

A gravidade dos prejuízos depende de vários fatores, nomeadamente da intensidade e duração do ataque, do estado geral da planta e das condições atmosféricas. A paragem do crescimento nas vinhas jovens, a deficiente maturação das uvas e menor acumulação de açúcar nos bagos são algumas das consequências resultantes dos ataques da cigarrinha verde.

Nos últimos anos tem-se assistido ao aumento de incidência desta praga e ao consequente agravamento dos danos provocados na cultura, especialmente durante a fase de maturação das uvas.

Figura 2 - Ninfas de cigarrinha observadas na página inferior da folha – Casta Castelão, Península de Setúbal. (Iva Almeida)

A retirada do mercado de várias substâncias ativas tem dificultado o controlo da praga e foi particularmente notada pelos viticultores no ano de 2020. As substâncias atualmente homologadas para o controlo da cigarrinha verde não apresentam a eficácia e persistência desejáveis, o que obriga muitas vezes à realização de um elevado número de tratamentos. A alternativa aos produtos fitofarmacêuticos de síntese, poderá passar por soluções como os extratos de urtiga e de citrinos ou as piretrinas naturais, usados ainda em pequena escala nas vinhas nacionais.

A melhor forma de controlar a praga, passa necessariamente pelo acompanhamento regular da cultura, a correta gestão da vinha e prática de medidas de luta cultural, como a fertilização equilibrada e as intervenções em verde. Também a monitorização da cigarrinha verde, que inclui a correta estimativa do risco, a avaliação da intensidade de ataque da praga e a ponderação dos fatores de nocividade, é fundamental para que as intervenções sejam atempadas e se evite o aparecimento de estragos na cultura.

Conclui-se que, todas as medidas que permitam contrariar a crescente incidência e pressão da cigarrinha verde deverão constituir prática habitual de modo a reduzir o impacto da praga na cultura da vinha.


Bibliografia consultada:
Manual BAYVITIS: A fitossanidade da videira
Los Parasitos de la Vid, Ediciones Mundi-Prensa, 1998
www.ascenza.pt/news/pragas-da-vinha-cigarrinha-verde
www.drapc.gov.pt/base/geral/files/relatorio_actividades_eab_2008_anexo_doencas_vinha.pdf

Eng.ª Iva Almeida

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