publicado a: 2020-11-16

Consumo dos portugueses em casa continua a aumentar mesmo após confinamento obrigatório

O consumo em casa continuou a aumentar mesmo após o período de confinamento obrigatório decretado em março pelo Governo, com os portugueses a realizarem, em média, mais três ocasiões de consumo em casa, por comparação com anos anteriores, de acordo com a análise ‘Mudanças no consumo em Portugal após a quarentena’, realizada pela Kantar e analisada por aquela consultora de mercado e pela Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produto de Marca.

Por contraste com setores afetados pelas consequências negativas da pandemia e com dinâmica fora do lar, como são a restauração ou a hotelaria, o consumo em casa sai favorecido, ao registar mais ocasiões através dos momentos de consumo tradicionalmente realizados fora do lar. Em média, no mês de junho, por exemplo, a evolução em ocasiões por momento de consumo aumentou 13,9% em relação ao meio da manhã, 38,5% em relação ao almoço e 33,7% ao meio da tarde, em comparação com igual período do ano passado.

Mais tempo em casa resulta também num crescimento de consumo ligado ao prazer, uma vez que 38,2% das ocasiões de consumo foram motivadas por esse fator, da mesma forma que 45% das ocasiões de consumo perdidas em out-of-home estão relacionadas com prazer.

A análise mostra que quase dois terços dos momentos de consumo que fazemos em casa estão a ser partilhados e correspondem, de alguma forma, à compensação da necessidade de socialização que se perde fora de casa”, sublinha Marta Santos, Manufacturers Sector Director da Kantar.

Num contexto de confinamento, reinventaram-se refeições e o almoço aproxima-se do alcance do jantar, quer no número de consumidores (92% em junho de 2020 vs. 82% em junho de 2019), quer no de ocasiões (5,2 em junho de 2020 vs. 4,2 em junho de 2019). Também os momentos de convívio após o jantar passaram a acontecer dentro de casa, principalmente entre os consumidores dos 20 aos 34 anos, que habitualmente estão 25% acima da média na presença fora de casa depois do jantar. Esta variedade de momentos de consumo fez disparar a venda de bebidas, nomeadamente de cerveja, verificando-se um aumento de 16% do volume total comprado para consumo dentro de casa.

Para Pedro Pimentel, Diretor-Geral da Centromarca, a conjuntura atual empurra os consumidores para um aumento substancial do tempo passado em casa e para a transferência do consumo para o lar em detrimento do que era realizado fora de casa. “Não é linear que para o conjunto setor do grande consumo esta transferência de ocasiões de consumo tenha um resultado amplamente positivo, pois, por exemplo, perdeu-se o forte impulso que era dado pelo fenómeno turístico, mas a conjuntura abre novas possibilidades e oportunidades para marcas, fabricantes e retalhistas, ao gerar, em especial no setor da alimentação e bebidas, uma nova atenção por parte dos consumidores, combinando racionalidade, saúde e indulgência”, explica.

Marta Santos acrescenta: “o estudo revela que a evolução de indicadores como o desemprego e o teletrabalho, a cozinha eficaz, a preocupação com a saúde e a necessidade de convívio e de socialização mesmo dentro de casa será decisiva para determinar o futuro do setor do grande consumo”.

Pedro Pimentel enfatiza que a segunda vaga da pandemia e as medidas que estão a ser tomadas, se bem que necessárias, podem penalizar ainda mais o consumo e a economia nos próximos meses. “O retrocesso no regresso a uma progressiva normalidade, os condicionalismos à mobilidade dos cidadãos e os receios associados ao consumo fora de casa penalizam fortemente o setor e terão um fortíssimo impacto no tecido económico nacional, com enormes custos financeiros e sociais. Esta segunda vaga representa, em especial para o Canal HoReCa, o dinamitar da ténue recuperação que vinham a fazer a partir dos meses de maio e junho, e pode significar a sentença de morte para milhares de estabelecimentos.”

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