publicado a: 2017-01-30

14 produtores de caracóis do Norte unidos

Junção de esforços visa vencer no mercado externo. Para este ano estão previstas 120 toneladas

Para muitos dos que vivem a norte do Douro, comer caracóis pode ser coisa de franceses, lisboetas, alentejanos e algarvios, mas a verdade é que produzir estes pequenos animais parece ser um negócio cada vez mais apetecível, como prova o grupo de 14 produtores fundador da Widehelix, a primeira cooperativa de helicicultores da região.

Concentrados no eixo Porto-Braga, com um desvio até Mangualde, comercializaram 12 toneladas nos primeiros três meses de atividade e preveem fechar 2017 com 120 toneladas de caracóis frescos, cozidos e ultracongelados, a que juntam subprodutos como o paté de caracol.

Com explorações entre os 2500 metros quadrados e os 7500, querem “valorizar o sector, garantir mais qualidade ao produto, impulsionar a produção e o volume de vendas, valorizar a oferta”, explica Miguel Oliveira, fundador e administrador desta cooperativa que tem a sua sede e estrutura logística em Famalicão.

O objetivo é ganhar escala para atacar o mercado internacional e, depois das primeiras toneladas vendidas em Itália, França e Espanha, a Widehelix olha já para o Canadá, Estados Unidos e Reino Unido, animada pelo facto de ter ultrapassado a sua previsão para o preço médio de venda. “Apontámos para os €3,20 por kg, mas passámos os €4,10, o que significa que podemos ficar acima do volume de negócios de €380 mil projetado para 2017”, sublinha Miguel Oliveira, sem se esquecer de comparar estes números “com o preço médio inferior a €3/kg praticado no mercado nacional”.

Todos trabalham em equipa, “com organização e espírito de entreajuda”, de forma a assegurarem o funcionamento das suas explorações e da cooperativa sem criarem postos de trabalho adicionais. Cada um dos 14 investiu uma média de €4300 e assumiu o compromisso de vender os seus caracóis em exclusivo à Widehelix, onde controlam todo o processo do negócio, desde a produção à comercialização. A transformação é feita em outsourcing, numa empresa certificada.

A justificar o otimismo do grupo, a par dos números do negócio, Miguel Oliveira refere “os pedidos diários de adesão de novos membros” e explica que o alargamento da base da cooperativa neste momento não é possível. “A ideia é ter toda a máquina bem oleada antes de pensarmos na expansão”, mas esse será o caminho inevitável porque “a ideia é crescer e responder às encomendas, sempre de forma a garantir o escoamento de toda a produção, mas sem aumentarmos a dimensão das 14 explorações porque isso implicaria ter custos acrescidos, desde logo com pessoal”, explica.


DO LABORATÓRIO À QUINTA

O que fazem individualmente e em grupo é criar caracóis bebés (alevins) que vão para estufas, ou parques ao ar livre para engorda. Depois, apanham os animais, vendem 95% para o exterior e usam ou vendem os restantes como reprodutores.

No caso de Miguel Oliveira, um gestor de 46 anos que trocou a direção de um laboratório farmacêutico em Lisboa por um negócio próprio no sector primário, os caracóis impuseram-se como uma escolha natural, depois de ter começado por analisar outras hipóteses como os frutos vermelhos ou o vinho. Procurou formação e informação e avançou há seis anos, quando arrendou a Quinta da Figueira, em Avintes, Vila Nova de Gaia, de forma cautelosa, com um investimento de €13 mil, para garantir as infraestruturas mínimas e ir conhecendo a fileira.

Hoje tem 5500 metros quadrados, metade dos quais numa estufa, montou uma maternidade para garantir o ciclo completo, da reprodução ao produto final, dentro de portas, tem vendas de €40 mil, submeteu um projeto a financiamentos do Proder — Programa de Desenvolvimento Rural, e já investiu uns €80 mil nos seus caracóis, concentrando a oferta nas caracoletas Maxima e Petit Gris.

E faz quase tudo sozinho. “Aqui tenho apenas o meu posto de trabalho, o que significa estar quase a tempo inteiro na maternidade e dar duas a três horas por dia à fase da engorda”, diz o produtor. Nos períodos em que a atividade exige mais, como na fase da apanha dos caracóis, a solução sempre foi a entreajuda e o trabalho conjunto com outros helicicultores. E explica: “Calendarizamos tarefas. Eles vêm ajudar-me e eu também os ajudo, o que significa conviver, trocar experiências, aprender.”


Fonte: Expresso

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