publicado a: 2014-05-16

Dependência de subsídio estrangula agricultura portuguesa

Um jovem agricultor olha para a Política Agrícola Comum e considera que o sector está estagnado. “Eles dão-nos a semente, nós tínhamos de a saber tratar e não comê-la”.

Rui Lagoa, de 35 anos, herdou dos pais e avós o ‘bichinho’ da agricultura e, por isso, licenciou-se em engenharia agrícola. Actualmente investe na produção de frutos vermelhos: mirtilo, framboesa, morango e groselha, conta o jovem agricultor numa entrevista concedida à Rádio Renascença.

Para se instalar em Covelo, Vila Pouca de Aguiar, o jovem agricultor contou com o financiamento na União Europeia.“O financiamento foi de 60%” e “se não tivesse este apoio”, não teria “concretizado o projecto”, que requereu um investimento de 115 mil euros.

Apesar de ter sido apoiado por fundos, Rui Lagoa discorda de grande parte das políticas europeias e considera mesmo que estão a “estrangular” o sector. “Não concordo com os subsídios que estão a ser dados, com o arranque das vinhas e pomares, com a estagnação de toda a nossa agricultura”, afirma, denunciando os malefícios dos subsídios que são dados para não produzir.

“Moro no vale de Aguiar. É um vale imenso com terrenos de reserva agrícola. Só há 8% no nosso país. Mas ninguém tem acesso aos terrenos porque estão a ser dados aos agricultores 300 euros por cada hectare ao ano para deixarem os terrenos de velho, para que tudo fique parado e não se produza”, conta.

Segundo o jovem agricultor, a estagnação da agricultura deve-se ao comodismo português e aos interesses dos grandes produtores da Europa.

“Eles dão-nos a semente, nós tínhamos de a saber tratar e não comê-la – e é o que estamos a fazer, porque nos contentamos com um ‘subsídiozinho’ pequenino”, acrescentando que “também é do interesse dos grandes da Europa a nossa estagnação porque, assim, ficamos totalmente dependentes deles para comprar cereal, batata e tudo aquilo que comemos”.

Para inverter a situação e tornar a agricultura portuguesa competitiva, o agricultor defende o fim da ‘subsídio-dependência’ e a alteração da Política Agrícola Comum (PAC ).

Portugal tem condições para ser competitivoRui Lagoa afirma que Portugal tem condições para ser competitivo em termos agrícolas e aponta como exemplo a produção de alho.

“É comprado nos mercados a cinco euros o quilo. Um hectare de alhos pode dar 10 toneladas – são 50 mil euros”, refere, salientando que estão “com 300 euros por hectare/ano para não produzir. Ficam os agricultores contentinhos, compram um jipe ou uma pick-up e não deixam que os jovens trabalhem”.

“O segredo para sair desta crise é termos uma boa agricultura e uma boa política agrícola”, frisa.

Este jovem agricultor em Covelo, Vila Pouca de Aguiar. Em 2013 começou a produzir mirtilo, framboesa, morango e groselha e ainda transforma os frutos em compotas, licores e chás. No ano passado já vendeu alguma da sua colheita para a Holanda e procura agora novos espaços, como lojas gourmet, onde possa comercializar os seus produtos.

Fonte: Agrotec

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