publicado a: 2016-02-24

A Batata em Portugal: Presente e Futuro

Analisando os dados mais recentes, desde o ano 2000, publicados pelo GPP – GlobalAgriMar e as Estatísticas Agrícolas 2014, edição de 2015 do INE, fazemos as seguintes considerações sobre a produção, exportação, importação e consumo de batata em Portugal:

  • A área cultivada em Portugal Continental, Açores e Madeira, é actualmente de cerca de 27.000 hectares, dos quais, cerca de 5.000 ha correspondem a produção de sequeiro. No Norte e no Centro cultivam-se cerca de 20.000 ha, com uma distribuição de área semelhante nestas duas regiões. No Sul, Açores e Madeira, plantam-se cerca de 7.000 ha. Em 2000, a área cultivada em todo o país era de quase 60.000 ha.
  • No ano 2000, registou-se 790.000 toneladas de produção nacional. A produção actual, incluindo as regiões autónomas é de aproximadamente 550.000 toneladas (valor médio nos últimos anos).
  • A exportação passou de 15.000 t em 2000, para um valor médio de cerca de 45.000 t / ano, de 2012 a 2014, tendo como principais destinos: Espanha, Alemanha, Holanda, França e Cabo Verde.
  • A importação desde 2008, têm-se situado acima das 300.000 t / ano face a 240.000 t em 2000. As principais origens são Espanha e França.
  • O consumo actual em Portugal, estima-se em 780.000 t / ano, correspondendo a um consumo por habitante de menos de 80 kg / ano. No ano 2000, o consumo em Portugal situou-se ligeiramente acima de 1.000.000 de toneladas (consumo per capita de cerca de 100 kg).
  • O Grau de Auto-Aprovisionamento, ou seja, o contributo da produção nacional no consumo total registado em Portugal é actualmente de 67,9 %, menos 10 % do que se registou em 2000 (77,9%).


Com esta análise de dados, tiram-se as seguintes conclusões:

  • A área de batata em Portugal, desde o ano 2000, reduziu praticamente para metade, muito provavelmente devido ao abandono da produção por agricultores que não conseguiam competir com os preços mais baixos da batata importada e por outro lado, pelos agricultores que produziam para auto-consumo e que se retiraram pela sua idade avançada.
  • A redução que se tem observado na produção nacional, é uma consequência da redução da área, mesmo com os aumentos de produtividade que se tem constatado nos últimos anos.
  • A exportação anual, triplicou em quantidade, desde o ano 2000, o que evidenciou a procura de mercado pelos principais operadores portugueses para escoar produto com qualidade reconhecida em outros países europeus e também nos PALOPs.
  • Pela redução na área cultivada com batata em Portugal e consequente quebra na produção, associando-se a um aumento da quantidade exportada, é fácil de perceber o crescimento que se tem registado nos últimos anos ao nível da importação de Espanha e França, países mais próximos de Portugal, com menores custos de produção e de conservação. Portugal, importa batata destes 2 países de Agosto a Maio, isto é, praticamente 10 meses / ano!
  • O consumo per capita de batata também diminuiu (menos de 80 kg em 2014 versus 100 kg em 2000) mas interessa, referir que o consumo de batata transformada não está considerado nesta análise. Atendendo aos hábitos actuais de consumo, assim como a vasta oferta actualmente disponível de produtos transformados à base de batata, pode não ser correcto afirmar que há redução de consumo – muito provavelmente, está a acontecer uma substituição do consumo de batata fresca por batata processada e que na grande maioria dos produtos disponíveis no mercado português (ex., batata pré-frita congelada), trata-se de batata processada e produzida em outros países, portanto, sem recurso a matéria-prima nacional.

Feita uma análise aos dados, é igualmente interessante deixar algumas notas sobre a batata no momento actual. É sem dúvida um produto indispensável na gastronomia portuguesa, seja pela tradição, seja pela sua polivalência em termos de preparações culinárias, seja pelo facto de ser um alimento que se conserva de forma natural desde semanas a meses (com temperaturas baixas e ao abrigo da luz). Por outro lado, a batata é também um ingrediente de baixo custo (low cost) com elevado valor nutricional ao nível de proteínas, minerais, vitaminas e é uma fonte de energia. Apesar das modas em termos de nutrição, não se pode retirar à batata a sua “nobreza” e o seu papel na nutrição à escala global, estando no topo dos produtos agrícolas consumidos a nível mundial, a par do trigo, milho e arroz.

Em Portugal, a batata tem sofrido nos últimos anos, de uma imagem menos boa, sendo considerada por muitos, um produto indiferenciado – “batatas são batatas” e “as batatas são todas iguais”, por outro lado, um produto “pouco sexy” e assim, tem perdido posição na dieta dos portugueses que tem substituído a batata por produtos concorrentes: hortícolas, arroz, massas e batatas processadas (pré-frita congelada, puré e snacks – fritas).

Na produção, tem-se assistido a um rejuvenescimento nos produtores de batata, os quais procuram introduzir mais tecnologia na produção (e até em câmaras de frio para a conservação) e aumentam as áreas de cultivo, de modo a reduzirem custos e tornarem a cultura competitiva, especialmente, nas áreas com potencial de exportação.

Relativamente à exportação, na actual campanha, verifica-se um aumento da área plantada com batata no Sul, especialmente nos distritos de Setúbal e de Beja, nos concelhos que estão fora da zona demarcada relativamente à presença do insecto do género Epitrix. Esta foi uma exigência feita pela maioria dos importadores de batata nacional.


No futuro… é preciso:

  • Defender o produto nobre que é a batata, tal como foi feito com: o pão, o vinho, o azeite, a pêra rocha, a maçã, etc. Esta defesa pode ser feita pela comunicação sobre os benefícios reais deste produto, a nível nutricional, económico e até social.
  • Reduzir a dependência do exterior para suprir as necessidades do consumo nacional, através da promoção da batata nacional por vários canais, conforme fazem os franceses e os ingleses.
  • Provar e defender que é possível a produção de batata nova em Portugal, com qualidade adequada para ser exportada para o Centro e Norte da Europa.
  • Provar que é possível colher batata nacional 9 a 10 meses por ano, conforme já acontece!
  • Segmentar o mercado da batata fresca, através da comunicação das variedades adequadas para cada uso culinário, com base em critérios qualitativos (análise sensorial – painéis de provadores) e quantitativos (% matéria seca, % açúcares redutores, etc.).
  • Incorporar a batata nacional nos produtos processados que são consumidos em Portugal. O desafio é o aparecimento de unidades de processamento e congelação da batata pré-frita em Portugal!
  • Estudar alternativas em termos de culturas que possam ser usadas com sucesso numa rotação com batata e que também possam ser exportadas – sugestões: alhos secos, batata doce, milho doce, cebolas para diferentes segmentos, etc.


Autoria: Eng. Sérgio Margaço e Engª Maísa Oliveira (Advice.AgriBusiness)

Fonte: Voz do Campo

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