publicado a: 2018-12-15

Algodão de Fukushima para o mundo

Imagem de Fashionnetwork

Sete anos após o terramoto e o tsunami que abalaram o Japão, a produção de algodão está a devolver aos cidadãos de Fukushima um meio de sustento. O Bicchu Brown, algodão nipónico, é usado para criar os Knoct Wraps, que têm sabido derrubar fronteiras.

Em 2011, o tsunami e terramoto Tohuku causou a destruição de três reatores nucleares em Fukushima e, para muitos, a região continua a ser sinónimo de tragédia e devastação. Há cidades e vilas ainda abandonadas e javalis salvagens radioativos a vaguear por ruas desertas. O solo outrora fértil apresenta atualmente uma elevada concentração de sal, das ondas de água do mar, fazendo com que a agricultura seja uma prática quase impossível. No entanto, a organização empresarial Iwaki Otento Sun recusa-se a desistir, lembrando que o algodão consegue crescer mesmo em terrenos ricos em sal, noticia o Sourcing Journal.

Em 2012, a organização fundou o Fukushima Organic Cotton Project com o objetivo de reabilitar os terrenos e devolver aos habitantes uma fonte de rendimento, ainda que o algodão não fosse plantado em grande escala no Japão há cerca de um século. Embora o cultivo do algodão tenha aberto caminho à industrialização do país, entre 1862 e 1912, na era Meiji, segundo a Japan Cotton Traders Association, o Japão importa atualmente 80% do algodão que consome.

Os agricultores de Fukushima decidiram plantar o algodão Bicchu Brown, a variedade japonesa, que requer mão-de-obra qualificada para transformar as fibras mais curtas em fios e depois tecer. Através dos esforços de voluntários, o projeto aumentou em dez vezes a quantidade de algodão produzida nos últimos seis anos. Para garantir a segurança da colheita, a cooperativa testa duas vezes por ano a radiação do terrento e das matérias-primas.

Em 2014, o projeto criou a Fukushima Siome, uma linha de produtos que acabou por fornecer os Knot Wraps, lenços conhecidos como Furoshiki, que são tradicionalmente usados para embrulhar presentes no Japão. Fukushima Siome, de acordo com a rádio japonesa NHK, significa, no idioma do país, «união de correntes do mar». «O nome foi dado em referência ao encontro de correntes da costa de Fukushima para simbolizar o encontro de pessoas através do algodão e a mudança na consciência ambiental», escreve a NHK. «A marca é agora usada em produtos vendidos por todo o Japão», acrescenta.

Saltar fronteiras

A marca de cosméticos Lush, do Reino Unido, lançou um lenço de estilo japonês, como parte da sua linha, feito precisamente com algodão orgânico produzido pela comunidade local de Fukushima. «A decisão serve como reconhecimento do nosso trabalho e da funcionalidade dos nossos produtos e da cultura japonesa», explica Yuta Sakai, diretor da divisão de algodão orgânico no Iwaki Otento Sun. «Ficamos felizes por ver os nossos produtos a serem usados por pessoas de todo o mundo», afirma.

Recentemente, segundo a NHK, o Fukushima Organic Cotton Project organizou um encontro de empresas japonesas. Os participantes concordaram que produtos orgânicos, como os da Fukushima Siome, podem não só melhorar a reputação de Fukushima e reconstituir os meios de subsistência, mas também chamar a atenção para o algodão japonês e a sua indústria. «Não podemos ser vítimas de um desastre para sempre, já passaram mais de sete anos desde a tragédia», lembra um agricultor de Fukushima à NHK. «Chegou a altura de removermos a palavra “caridade” do nosso projeto e pararmos de depender da pena. Devemos recomeçar simplesmente como profissionais que lidam com produtos de algodão de boa qualidade», sublinha.

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