publicado a: 2018-12-14

Brexit dá rombo de 86 milhões nos têxteis e no vinho

O Brexit anda na boca dos empresários portugueses e a provocar sentimentos contraditórios quanto aos eventuais efeitos da saída da União Europeia (UE) de um país com grande tradição de relacionamento económico em diversos setores. Só o têxtil e o vinho do Porto somam perdas de 86 milhões.


Quando há dias esteve no Comité das Regiões, em Bruxelas, o autarca de Viana do Castelo e responsável pela Delegação Portuguesa, José Maria Costa, deixou um alerta: o Brexit "poderá provocar uma pequena crise económica no Norte". Têxtil, vinhos, turismo, automóveis e tecnologia estavam no foco das suas preocupações. O JN foi auscultar organizações desses setores e constatou que a temida "crise" já chegou. E não é "pequena".

O presidente da Associação Empresarial de Portugal não esconde alguma preocupação. "No geral, os efeitos, a curto prazo, poderão ser negativos para muitos setores e irão conduzir a custos de desintegração económica, com consequências negativas para o nível de atividade económica, riqueza e emprego", resume Paulo Nunes de Almeida.

TÊXTIL
Quebra de 80 milhões


"O impacto já está a acontecer. Desde o referendo que ditou o Brexit, as exportações da Indústria Têxtil e Vestuário já perderam quase 20% do valor, o que é particularmente relevante quando pensamos no quarto maior mercado externo e com vendas superiores a 400 milhões de euros por ano", calcula o diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Paulo Vaz, questionando: "Se isto já assume este nível de gravidade, o que poderão ser os efeitos de um mau acordo ou uma má implementação do acordo, caso se venham a instituir direitos aduaneiros ou outros entraves de natureza burocrática?".

Paulo Vaz considera que "a desvalorização da libra face ao Euro tornará mais caras as importações provenientes da Europa e criará dificuldades acrescidas à competitividade dos nossos produtos e serviços no mercado britânico". Além de que "o clima de incerteza quanto ao desfecho do Brexit está a causar retração nos consumidores britânicos".

VINHO DO PORTO
Perda chega aos seis milhões


O setor do vinho do Porto contabilizou, até outubro, uma quebra de 20,9% nas vendas para o Reino Unido face a outubro de 2017. "Uma situação extremamente preocupante", admite António Saraiva, da Associação de Empresas de Vinho do Porto, e cuja indefinição não está a ajudar em nada os negócios com o quinto maior importador da região.

O volume de exportações de vinho do Porto é de 290 milhões de euros e só o Reino Unido representa quase 30 milhões de euros. A quebra das vendas representa, por isso, mais de seis milhões de euros.

VINHO VERDE
Inquietação no Minho


"Uma saída nos termos da Organização Mundial de Comércio, como reclama a linha dura dos Conservadores britânicos, vai colocar enormes problemas à livre circulação de bens", afirma Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. "O Reino Unido é um dos mercados de maior relevo para o vinho verde. Em 2017 representou 3,1M€ e em 2018 já ultrapassou este valor até outubro, estando a crescer 14%. Fecharemos o ano próximos dos 3,5M€ de exportações. Sendo o Brexit preocupante, este clima de incerteza ainda o é mais".

TURISMO
Único setor com ânimo


"Mesmo naqueles produtos que são mais procurados para visitas na região, não se registaram quaisquer perturbações significativas", garantiu Jorge Magalhães, vice-presidente do Turismo do Porto e Norte, para quem o Brexit pode ser "um fator de oportunidade".

"Os britânicos mantêm uma constância não só na região Norte, mas em todo o país, porque acreditam em Portugal, pela proximidade e por todas as referências que foram importantes para que se mantivessem cá", declara.

"Somos sempre um destino de eleição para os ingleses e, independentemente da abordagem que se faça com o Brexit, creio que não deixaremos de ter um fluxo permanente. Não teremos consequências tão negativas quanto se quer fazer crer".

Fonte: JN

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