publicado a: 2018-10-11

Como a cortiça venceu a batalha da sobrevivência

Na viragem do milénio surgem os primeiros sinais de crise no sub-sector rolheiro, o principal segmento de mercado, que representa 70% do volume de negócios do sector. "O mercado mundial de vedantes começa preferir soluções alternativas à rolha de cortiça, como os vedantes plásticos e os vedantes metálicos", afirmou Joaquim Lima, director-geral da APCOR. Associavam os vedantes de cortiça aos problemas que surgiam nos vinhos, como o TCA (tricloroanisole), "o gosto a rolha", e que era o "grande papão deste período".

Isabel Allegro, CEO da Supply Cork, defende que no início "a indústria ignorou os problemas e, de repente, houve uma mudança e uma reacção, com as empresas a preocuparem-se com a qualidade do produto e com as suas práticas". Adianta que "nós só tínhamos uma alternativa. Ou mudávamos e continuávamos ou mantínhamos a forma de estar no mercado e hoje não existíamos. Iríamos desaparecer porque o ataque da rolha sintética e metálica foi muito violenta, perdemos vendas de biliões de rolhas", refere Isabel Allegro.

Uma nova atitude

"Nesta altura o mercado da cortiça compreende que está com problemas sérios", refere Joaquim Lima. O sector sentiu que precisava de repensar a sua estratégia e as empresas começam a colocar em causa o modus operandi, o saber fazer, as práticas, as tecnologias. "Tudo é questionado". Instala-se um novo roteiro industrial em que "se desautorizam as práticas anteriores como verdades absolutas, dogmas", diz Joaquim Lima.

Estudou-se o sobreiro, a cortiça, os produtos, como a rolha de cortiça, e "com os sinais do mercado e as críticas sérias percebemos as fragilidades".
A indústria fez um processo de profunda mudança. Foi criado um código de boas práticas rolheiras e um sistema de acreditação das empresas que trabalhassem mediante estas práticas e que é feita por empresa independente, idónea, com experiência de auditoria. "O código das boas práticas rolheiras ajudou muito à melhoria de todo o sector, tal como a exigência dos clientes", confirma Isabel Allegro. Este pelo Código Internacional de Prática Rolheiras (CIPR) ajuda a combater o TCA.

As empresas passaram a relacionar-se com os mercados mas como uma verdade diferente, de compromisso com a qualidade dos produtos, sustentada cientificamente e com práticas e acreditações. As empresas abrem-se ao exterior e mostram como funcionam internamente.

Nos vedantes sintéticos deu-se um decréscimo de utilização mas no screw cap (metálico) continua a crescer no mercado, "mas a indústria da cortiça está mais sólida". Na opinião de Isabel Allegro, "há uma mudança de rolha natural (rolha de cortiça natural) para rolha técnica (rolha com 60 a 70% de granulado de cortiça, cola, microesferas), com o mercado da rolha natural não está estabilizado mas o da rolha técnica está com um crescimento grande", refere Isabel Allegro. Explica que as rolhas técnicas são mais baratas e adequam-se a vinhos de consumo rápido e ajudam a combates os outros vedantes.

Os números da cortiça

Cortiça
• 670 empresas de produção
• 9 mil trabalhadores
• 47,17% são microempresas
• 40 milhões de rolhas por dia produzidas
• 70% das exportações são de rolhas de cortiça
• 133 países é o mercado de exportação da cortiça.
• 95 dos 100 vinhos mais vendidos na China usam rolhas de cortiça.
• Corticeira Amorim vale mais de metade das exportações.

Objectivo 2018
• Mais de Mil milhões de euros em exportações
• Em 2017, o sector da cortiça exportou 986,3 milhões de euros, mais 5,4% face ao ano anterior. Em relação ao volume de exportações, 2017 registou também uma subida na ordem dos 7%, atingindo 197 mil toneladas.

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