publicado a: 2019-03-19

Descoberto açúcar que pode substituir o glifosato

Uma equipa de cientista da Universidade de Tübingen, na Alemanha, descobriu uma substância de origem natural que tem os mesmos efeitos do glifosato, um dos herbicidas mais utilizados em todo o mundo, que tem causado controvérsia devido aos seus riscos para a saúde e para o meio ambiente.

A alternativa natural é uma molécula de açúcar libertada por um tipo de cianobactérias, também apelidade de algas verde-azuladas. Os cientistas levavam a cabo estudos apenas para analisar a bactéria, descobrindo a molécula de açúcar por mero acaso.A cianobactéria em questão, a Synechococcus elongatus, é uma bactéria de água doce e é bastante “egoísta”. O micro-organismo excreta o açúcar 7-desoxi-Sedoheptulose (7dSh) para inibir o desenvolvimento de estirpes de bactérias concorrentes. A inibição é tão bem-sucedida que os cientistas quiseram saber o que há por de trás do mecanismo.

Klaus Brilisauer e os seus colegas Stephanie Grond e Karl Forchhammer descobriram que o 7dSh age sobre a mesma via metabólica que o glifosato. “[O açúcar] age sobre outra enzima, mas é a mesma via metabólica, a chamada via do xikimato”, explicou Brilisauer em entrevista à Deutsche Welle. O efeito é o mesmo: as plantas tratadas com o açúcar vêm o seu crescimento interrompido.

Através desta via, que é, no fundo, uma rota metabólica, plantas e microrganismos produzem importantes aminoácidos. Tendo em conta que este tipo de metabolismo não existe em formas mais avançadas de vida, como humanos ou animais, o açúcar acaba por ser inofensivo para a saúde e para o ambiente. “Tratamos embriões de peixe-zebra com uma dose bem alta e não registamos nenhum efeito negativo”, disse Brilisauer.

Contudo, importa frisar, a nova substância não pode ainda ser utilizada porque precisa de ser testada fora dos laboratórios. Além disso, está também pendente uma autorização para o seu uso como herbicida.

“Já estamos a conversar com parceiros“, disse Brilisauer. Num momento inicial, os parceiros em causa deverão testar a substância, e só depois será submetido para aprovação um pedido para o uso como. O processo pode levar 18 meses ou até mais, mas Brilisauer mostra-se otimista.

“Esperamos uma boa capacidade de degradação e baixa eco-toxicidade”, afirmou. Na prática, porém, é precisamente a capacidade de degradação que pode arruinar o uso da substância. Isto é, se se degradar muito rapidamente no terreno, a substância não será capaz de desenvolver o seu efeito inibidor no crescimento das ervas daninhas.

Brilisauer não tem receio que a Bayer, a gigante produtora de glifosato, apresente objeções à entrada de uma nova alternativa natural ao mercado. “A longo prazo, o glifosato vai desaparecer do mercado de qualque forma”, afirmou, dando conta que a Bayer até seria bem-vinda para participar no desenvolvimento da substância.

A Universidade de Tübingen já apresentou um pedido de patente.

De acordo com a Plataforma Transgénicos Fora, o glifosato é o herbicida mais usado em Portugal, sendo classificado pela Organização Mundial de Saúde como um carcinogéneo provável para o ser humano.

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