publicado a: 2018-06-11

Investigadores da UA descobrem tratamento para o cancro do kiwi

Investigadores da Universidade de Aveiro (UA) utilizaram um novo método para eliminar o chamado cancro do kiwi, sem efeitos secundários para a planta, pelo que se conseguiu apurar até agora no trabalho de investigação realizado.

A doença provocada pela bactéria Pseudomonas synrigae Actinidae (PSA) começa por provocar pintas amarelas nas folhas, depois espalha-se pelo resto do organismo da planta e pode levar à sua morte. Portugal é o 11º produtor mundial de kiwi.

Os kiwicultores portugueses já conhecem a doença há cerca de 20 anos. Quando aparecem os primeiros sinais, aplicam um tratamento à base de óxido de cobre que é o tratamento mais frequentemente aplicado em Portugal e nos outros países produtores de kiwi, mas que não tem sido suficiente para controlar a praga.

O uso do óxido de cobre tem vários problemas associados: a sua toxicidade, acumula-se no ambiente e pode não eliminar totalmente o cancro do kiwi, dado que há bactérias que conseguem desenvolver resistência a este tratamento.

O trabalho deste grupo de investigação da UA, em parceria com a Associação Portuguesa de Kiwicultores (com sede em Santa Maria da Feira), partiu do já conhecido efeito antimicrobiano das porfirinas que tem vindo a ser estudado por este grupo de investigadores em efluentes líquidos.

A toxicidade das porfirinas sobre as bactérias acontece quando sobre elas incide luz na presença de oxigénio. Primeiro, em ambiente laboratorial, demonstrou-se que a bactéria PSA era eficientemente inativada por este método.

Depois, já num ambiente mais próximo do real e com recurso a folhas de kiwi infetadas e expostas à luz solar, e na presença de uma nova formulação constituída por porfirinas catiónicas desenvolvida na UA, verificou-se um efeito antimicrobiano ainda mais eficaz. Esta formulação com cinco porfirinas já tinha sido testada, com bons resultados, noutras bactérias, nomeadamente no sangue.

Os estudos demonstraram ainda que aplicação destas porfirinas não deixa manchas nem danos na folha, ao contrário do que acontece com o óxido de cobre utilizado.

Assumindo como referência os parâmetros da American Society for Microbiology que estabelece que um antimicrobiano é eficaz quando a concentração de microrganismos, por mL, é reduzida em 3 log, ou seja em 99,9%, os estudos, neste caso, constataram que a redução da concentração de bactérias é de 4 log, ou seja, é reduzida em 99,99% com dois ciclos de tratamento fotodinâmico.

No entanto, com a formulação produzida em Aveiro, consegue-se uma redução superior a 5 log, ou seja, 99,999% de bactérias, após um ciclo só de tratamento. A questão da toxicidade das porfirinas no ambiente não se coloca uma vez que, com o tempo, se degradam e por isso ficam inativas.

Apesar dos estudos de resistência bacteriana realizados, não foram detetados casos de resistência bacteriana à ação da formulação utilizada, dado que na sua atuação multialvo são afetados diferentes locais da célula bacteriana.

O próximo passo na investigação será aplicação da nova formulação em plantas infetadas (in vivo) e, depois, testes no campo. Por outro lado, serão necessários ainda estudos de intervalo de segurança, entre outros, para verificação de eventuais efeitos em pessoas e animais.

O estudo está publicado na edição online do periódico “Planta” (Springer), e tem envolvido quer estudantes (Diana Martins, Mariana Mesquita, Vânia Jesus) quer investigadores (Adelaide Almeida, Amparo Faustino, Etelvina Figueira, Graça Neves) dos Departamentos de Química e de Biologia da UA e a Associação Portuguesa de Kiwicultores (Luís Reis).

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