publicado a: 2018-11-08

Pragas-chave associadas ao castanheiro e amendoeira

Em 2015, os frutos secos ocupavam, em Portugal, uma superfície de 69.407 ha, dos quais 51.700 ha na região de Trás-os-Montes, ou seja, cerca de 75% da área.

Em Portugal, o castanheiro, a amendoeira e a nogueira têm, no seu conjunto, uma enorme importância económica, social, cultural e ambiental, constituindo-se em algumas regiões do país, a principal fonte de rendimento das populações rurais.

No entanto, é notória a baixa produtividade dos nossos pomares com a utilização, frequente, de práticas culturais inadequadas e algumas indesejáveis, nomeadamente ao nível do controlo dos inimigos das culturas.

Estas espécies de frutos secos estão sujeitas ao ataque de várias pragas-chave como a vespa-das-galhas–do-castanheiro, Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu, o bichado-da-castanha, Cydia splendana (Hübner) e o gorgulho, Curculio elephas (Gyllenhal), no castanheiro, a monosteira, Monosteira unicostata (Mulsant & Rey, 1852), os ácaros tetraniquídeos, Tetranychus urticae (Koch) e Panonychus ulmi (Koch), a Anarsia, Anarsia lineatella Zeller, e o cabeça-de-prego, Capnodis tenebrionis (L.), na amendoeira, que causam enormes prejuízos ao nível da produção e da qualidade dos frutos e, consequentemente, quebras significativas de rendimento aos agricultores e agro-indústria. De seguida faz-se uma breve descrição das pragas-chave associadas a cada cultura e os meios de luta disponíveis.

A vespa-das-galhas-do-castanheiro, Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu (Hymenoptera: Cynipidae), é originária da China e, em Portugal, foi referenciada pela primeira vez em 2014, na região de Entre-Douro-e-Minho.

A praga ataca plantas do género Castanea, induzindo a formação de galhas nos gomos e folhas, provocando a redução do crescimento dos ramos e a frutificação, podendo diminuir drasticamente a produção e a qualidade da castanha e conduzir ao declínio dos castanheiros (EPPO, 2005; EFSA, 2010). A dispersão deste inseto é feita, principalmente, através da circulação de plantas ou partes de plantas das espécies hospedeiras, embora também se dê por dispersão natural do inseto adulto, em distâncias curtas, pois num ano a vespa-das-galhas-do-castanheiro desloca-se no máximo 25 km.

A fauna autóctone é capaz de parasitar a vespa-das-galhas-do-castanheiro, estando até ao momento identificadas nove espécies parasitoides pertencentes a cinco famílias (Eupelmidae, Torymidae, Euritomidae, Pteromalidae e Ormyridae). As taxas de parasitismo variaram de ano para ano e de região para região, oscilando entre 18% e 55%.

Como meios de luta contra esta praga recorre-se: (i) à luta cultural, empregue apenas em plantas jovens, onde se procede à remoção e destruição das partes atacadas antes da emergência do inseto e (ii) à luta biológica, através da largada do parasitóide exótico Torymus sinensis Kamijo (Hymenoptera: Torymidae), originário da China.

A utilização deste parasitóide específico tem sido o meio de luta mais eficaz contra esta praga.

O sucesso deste meio de luta depende do adequado conhecimento do ciclo biológico da vespa-das-galhas-do-castanheiro, da influência das condições climáticas, quer na biologia da praga, quer na fenologia da cultura e dos fatores de limitação natural da praga (EPPO, 2005; Francati et al., 2015).

O tratamento biológico com o parasitóide T. sinensis, apenas proporciona resultados a médio prazo. Em Itália e França, está a ser implementado há anos, observando-se uma redução significativa do ataque, 5 a 6 anos após as largadas.

O bichado-da-castanha, C. splendana é uma das principais pragas que ataca os frutos do castanheiro em todas as zonas de produção de castanha, podendo ser considerada praga-chave. É um lepidóptero, univoltino, de voo relativamente tardio.

Os ovos do bichado-da-castanha, geralmente são colocados junto às nervuras das folhas. Após a eclosão, a lagarta penetra no ouriço, onde efetua todo o seu desenvolvimento, caminhando inicialmente na zona exterior do albúmen, que ataca mais profundamente, à medida que vai crescendo.

Os prejuízos causados traduzem-se em prejuízos quantitativos, devido à queda prematura dos ouriços, e prejuízos qualitativos, uma vez que as castanhas perfuradas não têm valor comercial. Por outro lado, têm o interior destruído e cheio de excrementos e com frequência apresentam fungos.

O gorgulho, C. elephas, é um coleóptero comum em grande parte da Europa que além da castanha ataca azinheira, sobreiro e carvalho. É uma espécie com uma geração anual, com voo relativamente tardio (Agosto e Setembro).

Os ovos do gorgulho são colocados nos ouriços, após a eclosão a larva penetra no ouriço, onde efetua todo o seu desenvolvimento, destruindo o fruto.

Dados preliminares recolhidos em Trás-os-Montes, apontavam para níveis de infestação das castanhas, devidas ao bichado e gorgulho, de 20-25%, podendo ocorrer situações até 70% frutos atacados (Bento et al. 2007; Soares et al. 2008).

Atualmente, este é o principal problema para as empresas que transformam e comercializam a castanha, em parte responsável pela redução do preço no produtor nos últimos anos.

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