publicado a: 2019-07-09

Rações à base de insetos? O planeta agradece

Insetos tomam o lugar da ração animal e são utilizados para a criação de gado, nos países em que é permitida a sua comercialização e consumo, com o objetivo de reduzir o impacto ambiental.

O consumo de insetos como fonte de proteína animal revela-se uma alternativa mais sustentável para o nosso planeta. Em determinadas regiões do mundo, como na Ásia ou na África, comer insetos à refeição já não é nenhuma novidade e em breve prevê-se que seja a nova realidade dos países ocidentais.

Mas não espere ver insetos inteiros no seu prato, para já. Antes de serem servidos como refeição, estes passam por um longo processo. Depois de serem cultivados, são cozidos ou congelados, triturados e transformados em farinha. Mais tarde poderão ser introduzidos em bolachas ou em barras energéticas, por exemplo.

Segundo a FAO (agência da Organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura), a produção de insetos reduz a contaminação ambiental, a emissão de gases com efeito de estufa e exige menos água do que a produção de gado.

O consumo de insetos também traz algumas vantagens a nível nutricional. Os valores nutricionais dos insetos comestíveis dependem do tipo de inseto e do método de preparação e processamento. Um relatório da FAO refere também que estes têm um baixo teor de gordura (inferior ao da carne bovina), sais minerais (como sódio, potássio, ferro e zinco) e são ainda ricos em proteína e vitaminas.

A criação de insetos para a alimentação de animais, especialmente para peixes, já está em marcha. Nomeadamente, as mesmas larvas da farinha usadas como isco pelos pescadores podem também ser usadas como alimento para frangos.

Já há algumas empresas especializadas na criação e transformação de insetos em ração animal, principalmente para peixes e aves. A francesa Ynsect, fundada em 2011, cria sobretudo insetos como besouros e larvas de farinha, utilizando uma agricultura vertical amiga para o ambiente. Este tipo de agricultura permite que os alimentos sejam criados em camadas empilhadas verticalmente ou em prédios com vários andares, o que poupa área de terra que pode ser utilizada e aproveitada pela biodiversidade. De acordo com o jornal britânico The Economist, a estrutura de produção da empresa tem 20 metros de altura e 10 mil camadas cheias de farinha de larvas, o que equivale a 30 toneladas de proteína por mês. A empresa pretende ainda este ano, aumentar a altura da estrutura para 30 metros, o que irá produzir 1 500 toneladas de alimentação por mês.

Já na África do Sul, a empresa AgriProtein é líder na criação de larvas de mosca-soldado-negra, tendo uma quantidade de produção semelhante à Ynsect. A empresa produz ração animal a partir destes insetos. Para que nada se desperdice, utiliza os excrementos de insetos para fertilizantes. No futuro, pretende expandir a sua produção além de África.

Em Portugal, a empresa Portugal Bugs, com sede em Matosinhos, produz entre seis e sete quilos de farinha de “bichos-da-farinha” por mês, apesar de, até à data, não a poder comercializar, porque ainda não está previsto na lei. Por seu lado, as startups nacionais Buglife e Nutrix dedicam-se à produção de grilos.

Os insetos comestíveis são criados com dietas específicas sustentáveis, dependendo das regulamentações locais e dos insetos em questão. As larvas de farinha são vegetarianas e alimentam-se, entre outras coisas, de farelo de trigo. A mosca soldado-negro ganhou também um grande interesse pelos investigadores, uma vez que se alimenta de matéria ôrganica em decomposição, incluindo estrume. A AgriProtein alimenta as larvas com sangue aproveitado de matadouros, misturado com farelo de trigo, e os insetos adultos com leite em pó, melaço e açúcar. Os “bichos-da-farinha” da Portugal Bugs são alimentados com farelo de trigo e cenouras.

A União Europeia (UE) aprovou, em 2017, que insetos fossem inseridos em alimentos para a criação de animais. Quanto ao consumo humano, a UE está desde então a avaliar as espécies comestíveis, assim como regras de higiene e tecnologias associadas à produção das mesmas. Em Portugal, a comercialização deste tipo de alimentação está dependente de um parecer da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e das consequentes decisões da Comissão Europeia e dos seus Estados-membros.

É aos poucos que, através de iniciativas ambientais, estas empresas vão crescendo e ganhando terreno para tornar a nossa sociedade mais sustentável.

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