publicado a: 2018-12-16

Tomar | Engenheiro informático de 22 anos vence prémio com sistema de rega inovador

Como é que um engenheiro informático e árbitro de futebol cria um inovador sistema de rega e vence um prémio nacional entre 50 projetos? Foi isso que a "Medio Tejo" procurou saber junto de Rafael Escudeiro, de 22 anos, residente na localidade de Soudos, entre os concelhos de Tomar e de Torres Novas.

Simpático e humilde, Rafael está a concluir o mestrado em engenharia informática no Instituto Politécnico de Tomar mas já trabalha na Softinsa em Tomar, onde cria aplicações para telemóvel, sobretudo destinadas à atividade bancária.

É o filho mais novo (tem um irmão oito anos mais velho) de uma família de agricultores. Nasceu e cresceu no meio das hortas e da produção agrícola de média dimensão numa zona dedicada ao milho e ao figo. O seu pai obrigava-o a ajudar nos trabalhos da terra nomeadamente na mudança dos aspersores. “Apanhei muita molha”, desabafa a sorrir.

Este é um caso prático de como “a necessidade aguça o engenho”. Porque foi nesse ambiente rural, observando o sistema de rega e o seu processo de funcionamento, que começou a congeminar “uma coisa nova”, um outro sistema que fosse mais eficiente do que existe e que se vê nos campos agrícolas e nos jardins da cidade.


Primeiro entre 50 projetos concorrentes

Rafael Escudeiro, com a ajuda de dois colegas, Tiago Louro Alves e Rui Rodrigues, orientados pelo professor Carlos Queiroz, do IPT, desenvolveu um novo tipo de aspersor de rega, no sentido de diminuir o desperdício de água e aumentar a produtividade das culturas agrícolas.

Criado pela Confederação dos Agricultores de Portugal, o concurso contou com 92 inscrições e 50 projetos submetidos, envolvendo 316 alunos universitários e 36 docentes, representantes de 39 universidades e institutos politécnicos de Portugal, e abrangeu uma ampla participação de alunos universitários de diversas áreas científicas: Agronomia e Silvicultura, Biologia, Engenharia do Ambiente, Engenharia Civil, Economia e Gestão, Marketing e Comunicação e Design e Logística foram algumas das áreas envolvidas a concurso.

O evento de seleção dos premiados e cerimónia de entrega dos prémios decorreu no auditório da sede da CAP no dia 3 de outubro.

Foi com um sorriso rasgado que Rafael subiu ao palco para receber o cheque de 5 mil euros do prémio que fez questão de partilhar com os seus colegas de projeto.

Era o culminar de um ano de trabalho, o tempo necessário para aprender por só próprio a criação de modelagem em auto-cad para o desenvolvimento do protótipo em 3D.

E assim nasceu o Squater – um nome que se pretende associar a water (água em inglês) – projeto que lhe valeu o 1° prémio na 7ª edição do Concurso Universitário & Politécnico “CAP Cultiva o Teu Futuro”, sob o tema “A Água na Agricultura”.


Um invento que “pode mudar o mundo”

A ideia do novo aspersor surgiu da sua cabeça, mas para a elaboração do relatório pediu ajuda aos seus amigos Tiago Louro Alves e Rui Rodrigues, sob orientação do professor Carlos Queirós que também teve direito a um prémio de 2 mil euros.

Quando lhe perguntamos qual a principal mais-valia do seu inovador sistema de rega, Rafael aponta a eficiência. Pelas suas contas, os aspersores que inventou resultam num aumento de 22 por cento de área regada, com a vantagem de ser uma rega uniforme.

O invento resulta também de uma preocupação ambiental que Rafael tem, a poupança de água. “O consumo de água potável é cada vez maior e ela existe cada vez menos”, afirma. É com orgulho que fala do seu aspersor como “um invento que pode mudar o mundo”.

Quando o entrevistámos no início de dezembro previa que o registo da patente, no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, estaria para breve. Uma semana era o prazo que estimava. Depois, o seu plano é entrar em contacto com empresas que fabricam os sistemas de rega, para vender a sua ideia no sentido de ser produzida e comercializada.

Mas a sua visão de inventor não se limita a território nacional. Em Portugal, para se registar uma patente gasta-se cerca de mil euros e Rafael quer proteger os direitos do seu invento em todo o mundo. Por isso, tenciona avançar com o registo a nível internacional, o que implica um investimento de dezenas de milhares de euros.

Não tem dúvidas de que haverá empresas interessadas no seu invento e o próximo passo é contactá-las para vender essa ideia. Conta que ainda em 2019 possa estar à venda no mercado. Os pormenores técnicos do novo modelo de aspersor não os pode revelar enquanto todo o processo de registo não estiver concluído.

Além de programador informático, Rafael Escudeiro é árbitro de futebol nos campeonatos distritais e nacionais. Aos 22 anos, diz com orgulho que já participou numa Taça da Liga em 2012 que opunha o Benfica ao Gil Vicente, onde Rafael fez de 4° árbitro. Para exercer esta atividade teve de frequentar um curso influenciado pelo irmão que também é árbitro de futebol. Os seus fins de semana, desde há oito anos, são passados em vários pontos do país onde é chamado para arbitrar. “Gosto muito desta atividade. É como se fosse outra escola de vida”, afirma.

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