publicado a: 2014-07-14

Vespa ameaça produção de castanha em Portugal

Há uma nova ameaça para os castanheiros portugueses. É um espécie de vespa negra que põe os ovos nos gomos dos ramos e que leva à deformação dos novos rebentos com implicações na produção de castanha.

"Este problema pode ser ainda mais drástico do que as doenças do cancro e da tinta", avisa José Carlos Laranjo, presidente da Associação Nacional da Castanha (RefCast) e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

A vespa do castanheiro,Dryocosmus kuriphilus, é originária da China. Entrou na Europa, via Itália, em 2002. Em 2005 chegou a França e em 2012 a Espanha, tendo provocado avultados prejuízos nos soutos afetados. Em Portugal foi descoberta já este ano no vale do rio Neiva, em Barcelos. "Aconteceu contra todas as nossas expectativas, pois estávamos com receio que ela entrasse por zonas de fronteira com Espanha", adianta Laranjo.

O também elemento do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD, supõe que "a infeção naquela zona já ocorreu o ano passado" e teve uma expansão tranquila porque se deu numa zona onde os agricultores não se dedicam muito à produção de castanha.

Suspeita que a entrada da vespa em Portugal tenha ocorrido através de novos castanheiros contaminados importados para a criação de novos soutos. Por isso alerta os agricultores para "estarem atentos, pois podem já trazer o inseto". Mas há também a possibilidade de ter chegado através de meios de transporte, como carros, comboios, entre outros.

"Não queremos ter uma atitude alarmista, mas é uma situação que nos está a preocupar muito e para a qual precisamos da ajuda de todos", diz o presidente da RefCast, sublinhando que a inquietação atual é "saber onde a vespa está, para delinear as áreas de intervenção prioritárias para o próximo ano".

"Se houver alguma infeção em Trás-os-Montes e Alto Douro é neste período, até finais de julho, que será detetável", avisa ainda José Laranjo. Os agricultores "devem começar a fazer a prospeção pelos castanheiros mais novos" e se detetarem sintomas de presença da vespa "devem avisar os serviços regionais de agricultura ou a RefCast, e começar a cortar as galhas e a queimá-las".

Mosca chinesa para combater a vespa

A forma de controlo da vespa do castanheiro não vai ser um processo fácil mas pode ter algum sucesso, pois a RefCast conta com a experiência adquirida pelos italianos, que já lutam contra esta praga desde 2002.

Não vale a pena procurar solução no mercado de inseticidas, porque ainda não há nada eficaz. A solução, para já, é biológica. Há uma mosca, a Torymus sinensis, também originária da China, que é parasita da Dryocosmus kuriphilus e, em abril, deposita o seus ovos nos mesmos sítios onde a outra já o fez. Quando os seus ovos eclodem, as larvas vão comer as da vespa. "Como não chega a formar-se é menos uma vespa a espalhar 200 ovos pelos castanheiros", nota José Carlos Laranjo.

Nesta altura está já decorrer reuniões entre as partes interessadas neste processo e começaram a ser desencadeados mecanismos oficiais que permitam a importação daTorymus sinensis. "Primeiro queremos importa-la e espalha-la, mas também queremos aprender a produzi-la", acrescenta o investigador.

Como atua a vespa do castanheiro

- Pica o gomos verdes nesta época para depositar os ovos no interior. Até à primavera seguinte os ovos eclodem e saem as larvas que se alimentam do interior dos gomos, impedindo que seja originado um ramo bem formado. No seu lugar fica uma galha.

- As galhas são muito fáceis de ver. Começam por ser de cor verde-clara e depois passam a cor rosada. São uma espécie de "inchaços", semelhantes aos bogalhos dos carvalhos, que aparecem na base das folhas e que impedem o seu crescimento normal.

- Ao ser afetado o ramo, os órgãos frutíferos vão desaparecer e como tal não vai ter ouriços. Deixar disseminar esta praga pode levar a que num espaço de três ou quatro anos a produção de castanha possa ser reduzida significativamente.

- A vespa já formada abandona o tal "inchaço" no final da primavera, ou princípio do verão, e só vive até 10 dias. Durante esse período tem como única atividade colocar cerca de 200 ovos em novos gomos de castanheiro, à razão de dois ou três para cada um.

Fonte: Jornal de Noticias

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