publicado a: 2019-12-26

Zonas rurais perderam 40% de população nos últimos 30 anos

Algumas zonas rurais do Alentejo, Centro e Norte do país perderam 40% ou mais de população nos últimos 30 anos. Portugal tem mais de dois milhões de indivíduos com mais de 65 anos.


«A variação da população foi mesmo negativa em 68% dos municípios e foi positiva em apenas um terço, em 32%», disse à agência Lusa a coordenadora do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, Paula Santana, apontando que este é «um fenómeno mais rural do que urbano».

«O território é muito desigual na distribuição da densidade populacional e, falando apenas do continente, há 20 municípios com densidade inferior a 10 habitantes por quilómetro quadrado», mencionou.

Segundo a professora da Universidade de Coimbra, no Alentejo e Centro há alguns concelhos rurais que têm densidades populacionais entre os quatro e sete habitantes, como é o caso de Alcoutim, no distrito de Faro, em oposição a cidades como a Amadora, no distrito de Setúbal, que atinge mais de sete mil habitantes por quilómetro quadrado.

Outros exemplos desta baixa densidade populacional são os municípios de Gavião e Nisa, no distrito de Portalegre, Idanha-a-Nova e Penamacor, em Castelo Branco, ou Castanheira de Pera, pertencente ao distrito de Leiria.

Na visão da especialista, está a criar-se nestes territórios uma situação de “risco demográfico”, causada pela perda de residentes, que se acentuou com a emigração da população ativa nos últimos 10 anos, com a baixa taxa de natalidade e fecundidade e com o aumento da esperança média de vida, que ultrapassa os 80 anos.

«Em algumas áreas rurais existem quase três idosos para um jovem, o que é mais do dobro do que existe nas áreas urbanas. Não estou a dizer que existem pessoas com mais de 65 anos em número absoluto nas áreas rurais, mas que a proporção de idosos sobre jovens é muito agravada nestas zonas», explicou.

Ainda assim, Paula Santana referiu que «Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa e do mundo”, tendo em 2018 “mais de dois milhões de indivíduos com mais de 65 anos, em 10,3 milhões de habitantes».

«Este número vai aumentar muito, estima-se que em 2040 seja quase 40% neste grupo de idade. É de facto um alerta que todos devemos ter. É um resultado da melhoria das condições de vida e uma conquista do século XXI, mas temos de ter presente que as pessoas não querem só viver mais anos. Querem viver mais anos com felicidade, serem criativos e úteis, mas é isso que às vezes falha», apontou.

Para a responsável, esta situação de «risco demográfico» levanta «múltiplos desafios ao país», havendo a necessidade de serem criadas «políticas de promoção do bem-estar ao longo dos ciclos de vida», não só para quem ainda vive nas zonas rurais, mas também para atrair novos residentes.

A implementação destas medidas, acrescentou, «é o papel dos governos locais, em articulação com os governos regionais e centrais».

Nas últimas semanas, a regionalização tem sido apontada como uma solução para os problemas demográficos existentes no país, contudo, Paula Santana escusou-se a comentar o tema, afirmando que se encontra «dividida».

O debate sobre este assunto acentuou-se depois do congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), realizado em novembro, na cidade de Vila Real, onde os municípios aprovaram uma proposta de «criação e instituição de regiões administrativas em Portugal».

Contudo, o primeiro-ministro, António Costa, já remeteu o processo para a próxima legislatura, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter pedido cuidados na abordagem da criação de regiões.

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