publicado a: 2014-11-20

INE: Chuvas condicionam colheitas e afetam produções agrícolas

As previsões agrícolas do INE, em 31 de outubro, apontam para a diminuição da produtividade nos olivais (-15%, face a 2013), resultante dos graves ataques de gafa e mosca da oliveira, que também prejudicaram a qualidade dos azeites obtidos. Também os soutos de castanheiros foram severamente afectados por problemas sanitários, nomeadamente pela septoriose, fungo geralmente pouco ativo mas que as temperaturas amenas e as precipitações fortes deste verão fizeram proliferar de forma descontrolada, originando decréscimos acentuados de produção que deverão rondar os 35%, face à campanha anterior. Deverão registar-se ainda reduções de produção no kiwi (-15%, com problemas fitossanitários e fisiológicos), na produção vitivinícola (-10%, com as chuvas a afectarem decisivamente a qualidade dos mostos) e na maçã (-5% face a 2013, que tinha sido o melhor ano de produção da última década). Quanto à pêra, a campanha decorreu sem incidentes, prevendo-se um aumento de produção de 5%, com frutos de bom calibre mas baixo Brix (indicador do teor de açúcar).

Nas culturas temporárias de primavera/verão assinalam-se as dificuldades que a precipitação persistente tem colocado aos produtores para a realização das colheitas, bem como o efeito negativo na qualidade dos produtos colhidos. No tomate para a indústria, na última semana de setembro e na primeira de outubro (período onde praticamente não ocorreu precipitação) foram retomados/intensificados os trabalhos de colheita, estimando-se que tenham ficado por apanhar cerca de 10% da área plantada. Prevê-se um aumento da produção de 20%, face a 2013, exclusivamente em resultado do aumento da área. No milho, a produção deverá ser semelhante à campanha anterior, com as preocupações a convergirem para os aspetos económicos, nomeadamente para a descida do preço desta commodity nos mercados internacionais e para o aumento dos custos de produção decorrentes da secagem do grão.

O mês de outubro caraterizou-se, em termos meteorológicos, por valores de temperatura média muito superiores à normal, tendo sido o outubro mais quente desde 1931. Na segunda quinzena registou-se mesmo a ocorrência de uma onda de calor, considerada como a mais significativa para o mês de outubro dos últimos 70 anos, quer pela sua duração (6 a 9 dias), quer pela sua extensão espacial (todo o território excepto o interior norte). Quanto à quantidade de precipitação, concentrada sobretudo entre os dias 6 e 17, foi superior ao valor normal, classificando-se o mês como chuvoso.

Estas condições climatéricas afetaram significativamente a actividade agrícola. Após os primeiros dias do mês, em que ainda foi possível realizar algumas colheitas (nomeadamente do milho, arroz, hortícolas, uvas e azeitona) em condições minimamente aceitáveis, a chuva que se seguiu condicionou estas operações e, aliada às altas temperaturas para a época, potenciou o desenvolvimento de doenças criptogâmicas e o ataque de pragas. 

Ao longo do mês de outubro verificou-se um aumento da percentagem de água no solo em todo o território do Continente, atingindo os valores normais no final do mês.


Prados e pastagens beneficiam das condições meteorológicas 

A disponibilidade de água e as temperaturas acima da média para a época beneficiaram os prados, pastagens e culturas forrageiras, com condições bastante favoráveis à germinação e crescimento de vegetação semeada e espontânea. Apesar do pastoreio nesta época representar apenas uma parcela da alimentação dos efectivos (sustentada maioritariamente com recurso a palhas, fenos, silagens e rações industriais), perspectiva-se uma mudança para uma maior utilização da massa verde das pastagens. 


Perspetivas pouco animadoras para a actual campanha oleícola

Nos olivais, a floração decorreu sem problemas, o que originou uma carga de frutos bastante razoável. No entanto, o verão ameno e os elevados valores de humidade relativa de setembro e início de outubro, associados a temperaturas relativamente altas, propiciaram o desenvolvimento da mosca da azeitona e da doença da gafa. O facto de ter chovido continuamente durante este período dificultou a realização de tratamentos fitossanitários, havendo muita azeitona sem condições sanitárias para ser colhida, principalmente na variedade Galega. Estima-se um decréscimo da produtividade de 15%, face a 2013. De referir ainda que se está a produzir muito azeite com grau de acidez superior a 1%, situação atípica numa fase tão precoce da campanha e com evidentes prejuízos na qualidade e valorização do produto. 


Acentuada volatilidade da cotação do milho compromete competitividade económica da actividade 

A colheita de milho ainda decorre, com as condições climatéricas a dificultarem a operação, obrigando amiúde ao recurso à tracção de lagartas nas ceifeiras debulhadoras. O amadurecimento e a redução do teor de humidade do grão foram condicionados pelas temperaturas amenas do verão e, sobretudo, pela precipitação dos últimos meses, o que tem obrigado à intensa utilização de secadores. Este facto, aliado à descida do preço desta commodity nos mercados internacionais (-17% face ao mês homólogo em Bordéus), contribuiu para uma diminuição da rentabilidade da cultura do milho. Apesar destes condicionalismos, a produção deverá ser semelhante à alcançada em 2013. 


Condições meteorológicas prejudicam o desenvolvimento do arroz

No arroz, ainda estará por colher cerca de 1/3 da área. As baixas temperaturas na floração (que originaram muito aborto floral) e as fortes chuvadas de setembro (que provocaram alguma acama e facilitaram a propagação da piriculariose ou queimadura do arroz) contribuíram para um decréscimo da produtividade, devendo a produção rondar as 162 mil toneladas (-10% que em 2013).


Fonte: Agroportal

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