publicado a: 2016-10-12

Primeira exploração agrícola no deserto que utiliza apenas sol e água do mar

Imagem: Sundrop Farms

Sol e água do mar - isso é tudo o que uma nova e futurista estufa necessita para produzir 17.000 toneladas de tomates por ano no deserto sul australiano.

É o primeiro sistema agrícola deste tipo no mundo e não usa solo, pesticidas, combustíveis fósseis ou água subterrânea. Como a procura por água doce e energia continua a aumentar, isto pode ser o rosto da agricultura no futuro.

Uma equipa internacional de cientistas passou os últimos seis anos a ajustar o design - primeiro com uma estufa piloto construída em 2010; em seguida, uma instalação com escala comercial, que começou a ser construída em 2014 e foi oficialmente lançado este mês.


Como funciona

A água do mar é bombeada 2 km desde Spencer Gulf para Sundrop Farm - o local de 20 hectares na região árida de Port Augusta, na Austrália. A estação de dessalinização alimentada por energia solar remove o sal, criando água doce suficiente para irrigar os 180.000 tomateiros dentro da estufa.

Temperaturas escaldantes no verão e condições secas tornam a região inadequada para a agricultura convencional, mas a estufa é forrada com cartão encharcado de água do mar para manter as plantas frescas o suficiente para se manterem saudáveis. No inverno, aquecimento solar mantém a estufa quente.

Como água do mar limpa e esteriliza o ar, não há necessidade de pesticidas e as plantas crescem em cascas de coco, em vez de solo.

A energia solar da exploração é gerada por 23.000 espelhos que refletem a luz solar para um recetor a 115 metros de altitude. Num dia ensolarado, podem ser produzidos até 39 megawatts de energia - o suficiente para alimentar a estação de dessalinização e suprir as necessidades elétricas da estufa.

Tomates produzidos na estufa já começaram a ser vendidos em supermercados australianos.


Perspectiva futura

A possível escassez de energia solar no inverno significa que a estufa necessita de estar ligada a uma rede de backup, mas as melhorias graduais ao projeto irão eliminar qualquer dependência de combustíveis fósseis, diz o CEO da Sundrop Farm, Philipp Saumweber.

A infra-estrutura de 200 milhões de dólares (cerca de 180 milhões de euros) faz com que a estufa de água do mar seja mais dispendiosa do que uma estufa convencional, mas os custos vão ser pagos a longo prazo, diz Saumweber. As estufas convencionais são mais caras numa base anual por causa do custo dos combustíveis fósseis, diz ele.

A Sundrop está agora a planear lançar estufas sustentáveis semelhantes em Portugal e nos EUA, e outra na Austrália. Outras empresas também estão a testar estufas piloto de água salgada em áreas do deserto de Omã, Qatar e os Emirados Árabes Unidos.

"Estes sistemas de produção fechada são muito inteligentes", diz Robert Park, da Universidade de Sydney, Austrália. "Acredito que os sistemas que utilizam fontes de energia renováveis se tornarão cada vez melhor e irão aumentar no futuro."

No entanto, Paul Kristiansen na Universidade de New England, na Austrália, questiona a necessidade do uso intensivo de energia paro o cultivo de tomates num deserto, quando há condições ideais de crescimento em outras partes da Austrália.

"É um pouco como esmagar um dente de alho com uma marreta", diz ele. "Não temos problemas em cultivar tomates na Austrália."

No entanto, a tecnologia pode ser útil no futuro, se as alterações climáticas provocam seca em regiões outrora férteis, diz Kristiansen. "Então, será bom ter planos de backup.”


Fonte: New Scientist

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