publicado a: 2017-10-25

Novo estudo indica que as populações de insetos diminuíram 75% ao longo das últimas 3 décadas

Um novo estudo científico encontrou declínios "dramáticos" e "alarmantes" em populações de insetos em diversas áreas na Alemanha. Os investigadores afirmam que esta situação poderá ter consequências de longo alcance para a produção agrícola e para os ecossistemas naturais.

O estudo, publicado no passado no passado dia 18 no jornal PLOS One, descobriu que, nas reservas naturais alemãs, as populações de insetos voadores diminuíram mais de 75% ao longo dos 27 anos de estudo.

"A comunidade de insetos voadores como um todo, foi dizimada nas últimas décadas", afirma o estudo, conduzido por investigadores da Universidade Radboud na Holanda e a Entomological Society Krefeld, na Alemanha.

"A perda de diversidade e abundância de insetos deverá provocar efeitos em cascata nas cadeias alimentares e prejudicar os serviços ecossistémicos".

O coautor Caspar Hallman afirma que ele e os seus colegas ficaram "muito, muito surpreendidos” pelos resultados. "Estas não são áreas agrícolas, são locais destinados a preservar a biodiversidade, mas mesmo assim vemos os insetos a desaparecer", disse ele à CNN.

Pode ser em todo o lado

Os entomologistas há muito que já provaram o declínio de espécies individuais, disse Tanya Latty, investigadora e professora de entomologia na Sydney University's School of Life and Environmental Sciences .

No entanto, poucos estudos mostraram uma visão tão ampla de populações inteiras de insetos, diz ela.

"Se se vê esse tipo de queda dramática em áreas protegidas, preocupa-me que essa tendência possa estar em todo o lado“, disse ela. "Não há motivos para pensar que isto não esteja a acontecer em todo o lado”.

Hallman espera que o estudo possa ser "repetido em outras partes do mundo".

Declínio preocupante

O estudo de longo prazo usou armadilhas Malaise - um tipo sofisticado de rede que captura uma grande variedade de insetos - instalado em 63 áreas protegidas alemãs, ao longo de 27 anos.

Ao medir o peso do inseto capturado - conhecido como biomassa - de cada uma das armadilhas Malaise, os investigadores puderam verificar o declínio no número de insetos.

O estudo reportou um declínio sazonal de 76% e um declínio no meio do verão de 82%, na biomassa de insetos voadores, ao longo dos 27 anos de estudo.

Latty diz que é particularmente preocupante que o estudo tenha registado o declínio em áreas protegidas, o que significa que, em áreas agrícolas ou urbanas, a tendência pode ser ainda mais pronunciada.

Latty diz que é improvável que haja uma "arma" que seja responsável pelo declínio dos insetos, mas sim uma combinação de fatores. As mudanças climáticas, a perda de habitats de insetos e o uso de pesticidas foram sugeridos como possíveis causas.

Subestimado

Latty afirma que a importância dos insetos - que constituem cerca de 70% de todas as espécies de animais - é subestimada.

"Nós muitas vezes não pensamos em insetos além de 'eww, um inseto'. Mas estes são os organismos que correm o mundo.

"Os insetos polinizam as culturas que comemos, contribuem para o controle de pragas. Eles são até cruciais no controlo de resíduos - a maioria dos resíduos em áreas urbanas é atendida por formigas e baratas".

Os insetos, diz ela, são "cruciais" para a biodiversidade e "nós existimos por causa da biodiversidade".

Efeitos alarmantes

As espécies que dependem de insetos como sua fonte de alimento provavelmente sofrerão com essas diminuições. A polinização de culturas e plantas selvagens também são afetadas, assim como o ciclo de nutrientes no solo.

Cerca de 80% das plantas selvagens dependem de insetos para polinização; 60% das aves dependem de insetos como fonte de alimento, de acordo com o estudo.

Latty diz que espera que o declínio seja reversível. "O primeiro passo é reconhecer que temos um problema e trabalharmos para o corrigir - como desenvolvemos a nossa agricultura para encorajar insetos? Pode ser algo tão simples ter flores silvestres ao longo dos limites dos campos".

Ela diz que também precisamos de melhorar a educação das pessoas em torno das populações de insetos - "que os insetos são importantes, absolutamente cruciais para a nossa sobrevivência", e lidar com as pragas com sensibilidade.

"Há tantas coisas a acontecer por aí, é uma luta para convencer as pessoas de que os insetos são importantes. Provavelmente identificamos apenas 10% dos insetos e alguns estão extintos antes que possamos nomeá-los".

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