publicado a: 2019-04-09

Pitaia: perspetivas e dificuldades de uma “nova” cultura

Por Ana Trindade, Adélia Reis, Luís Sabbo, Diamantino Trindade e Amílcar Duarte

Resumo

No Algarve, onde existem condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo de algumas espécies frutícolas exóticas, oriundas de climas tropicais ou subtropicais, surge o interesse no cultivo da pitaia.

Esta cultura apresenta altas produções em alguns países e é adequada para terrenos de pequenas dimensões.

Ela acaba por satisfazer também a necessidade de diversificar a fruticultura da região. Devido à sua aparência exótica e ao seu alto valor nutritivo, a pitaia tem sido cada vez mais procurada em diversos países, principalmente pelos mercados asiáticos e europeus.

Para desenvolver a cultura da pitaia no Algarve foi constituído um grupo operacional cujo objetivo principal visa inovar ao nível das tecnologias de produção para a pitaia vermelha, testando a sua produtividade, rusticidade e qualidade dos frutos.

Começou-se por fazer um levantamento da situação desta cultura em Portugal. Estão também a ser instalados vários campos de ensaio/recolha de dados, sobre várias espécies de pitaia vermelha.

TAXONOMIA E ORIGEM

As várias espécies de pitaia vermelha pertencem à família Cactaceae e são nativas das florestas húmidas do México, América Central e América do Sul.

Os maiores produtores mundiais são a Colômbia e o México. Também é conhecida por “fruta-dragão”, “flor-da-noite”, “fruta-gelatina” e “rainha-da-noite”.

Por ser uma Cactácea, apresenta um tipo específico de metabolismo, denominado metabolismo ácido das crassuláceas ou CAM (mecanismo de concentração de dióxido de carbono) que influencia o comportamento dos estomas (abrem à noite e fecham durante o dia) e permite que estas plantas sejam mais eficientes no uso da água.

DESCRIÇÃO BOTÂNICA

Planta

A planta é perene, trepadeira, com caule classificado morfologicamente como cladódio, de onde surgem por vezes raízes adventícias que ajudam na absorção de nutrientes e fixação da planta a uma estrutura de suporte, geralmente um poste, do cimo do qual pendem os cladódios produtivos.

Desde que a planta seja cultivada em condições adequadas, a floração ocorre após o terceiro ano e surge no final da primavera até princípios do outono, sendo mais intensa em pleno verão.

O desenvolvimento do botão floral tem uma duração de cerca de 25 a 35 dias. A floração é induzida pelos dias longos, uma vez que a pitaia é uma planta dependente do fotoperíodo. No entanto, o efeito do fotoperíodo depende da temperatura e o intervalo de tempo desde a indução floral até à floração aumenta quando a temperatura atinge valores acima do ponto ótimo (Feng-Ru& Chung-Ruey, 1997a; 1997b; Yan& Wallace, 1995).

Morfologia floral

As flores são grandes (15 cm a 30cm), brancas, vistosas, de agradável fragrância, hermafroditas, só abrem por uma noite, durante um período compreendido entre oito e doze horas (abrem a partir das 19h e estão completamente abertas até às 22h). Por volta das 2h, depois de a polinização ter ocorrido, a flor murcha gradualmente. Se não ocorrer a polinização, a flor pode permanecer aberta até à manhã seguinte.

Polinização – necessidades e problemas

Por a flor abrir somente à noite, a sua fecundação depende dos agentes polinizadores noturnos, principalmente dos morcegos que se alimentam de néctar e pólen. No entanto a presença destes polinizadores naturais é escassa na região (Horácek, 1984) e, como tal, a polinização natural é pobre.

A polinização das flores parece ser o aspeto mais problemático relativamente à produção de frutos. A morfologia floral pode também revelar-se um problema em relação à polinização, pois os órgãos masculinos estão posicionados mais abaixo, relativamente aos órgãos femininos, ou seja, mesmo que agentes polinizadores como as abelhas intervenham nas primeiras horas da manhã, por serem seres tão pequenos comparativamente à flor, não parecem ser eficazes no transporte do pólen.

Por este motivo, a polinização manual é uma prática essencial para a obtenção de produções comerciais, ainda que se verifique, por exemplo no Sri Lanka, condições para que abelhas como a Apiscerena, Apisflorae e a Apisdorsata, efetivamente polinizem a flor da pitaia durante as primeiras horas da manhã (Pushpakumara et al., 2005).

Ainda sobre problemas em relação à polinização, a H. undatus é considerada uma planta com um mecanismo de autoincompatibilidade.

Neste caso, a fecundação só ocorre se houver polinização cruzada (Lichtenzveig et al., 2000; Nerd&Mizrahi, 1997; Weiss et al., 1994).

Parece ser que a origem do pólen pode influenciar as características do fruto. Consequentemente, para potenciar o vingamento e um teor de açúcar dos frutos superior, é recomendada a plantação de pitaias com diferentes genótipos, assim como a polinização manual à base de pólen recolhido de diferentes plantas ou de plantas selecionadas para o efeito.

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