publicado a: 2015-10-30

Leptoglossus occidentalis, a praga do pinheiro manso

Foto: www.naturespot.org.uk

Bastaram quatro anos. Entre 2010, ano em que houve uma “superprodução de pinha”, como explicou ao SOL Pedro Silveira, da Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado (Ansub), e 2014, o inseto leptoglossus occidentalis, originário da América do Norte, ‘sugou’ grande parte da produção de pinhão nacional, diminuindo o rendimento "em cerca de 30% face ao espetável". Sugar, neste caso, não é um eufemismo.

Dono de "uma espécie de trompas pontiagudas, o inseto de pouco mais de dois centímetros consegue "penetrar a pinha para se alimentar, absorvendo o pinhão em formação", continua o mesmo responsável. O resultado são os denominados ‘pinhões chochos’.

Com uma capacidade de sobrevivência rara, “numa região em que não tem inimigos naturais”, dado tratar-se de uma espécie exótica, o bicho soma e segue: “Além de absorver o pinhão, estraga a pinha enquanto ainda está a formar-se”, diz Pedro Silveira, lembrando que “uma pinha leva três anos a ficar madura”.

As más notícias para a fileira do pinheiro manso não ficam por aqui. O leptoglossus occidentalis é ainda portador de um fungo que mata as ‘guardiãs’ dos valiosos pinhões. O resultado é devastador: “Há cinco anos, uma campanha rendia entre os 50 e os 70 milhões de euros; no ano passado o rendimento dos produtores caiu para os 15 milhões”, lamenta Silveira.


Praga descontrolada em toda a Europa

Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), este inseto exótico – que, recorde-se, é mais uma praga a ameaçar a floresta autóctone e as exportações portuguesas (com o pinheiro bravo, por exemplo, a sofrer grandes restrições comerciais devido ao nemátodo da madeira do pinheiro) – chegou à Europa, mais exatamente ao Norte de Itália, já em 1999, “tendo-se aclimatado e disseminado rapidamente por vários países europeus”.

A Portugal chegou 11 anos depois, em 2010. As autoridades nacionais não têm, porém ainda qualquer plano de ataque para mais esta praga. Segundo Pedro Silveira, da Ansub, apenas recentemente (a 1 de outubro), foi assinado um protocolo para investigar o comportamento do inseto (que “percorre grandes distâncias”), entre entidades como a Câmara Municipal de Alcácer do Sal, a União da Floresta Mediterrânica, a Direção-geral de Alimentação e Veterinária e Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o ICNF o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Explica Pedro Silveira: “Já tinha sido desenvolvido um protocolo de investigação com o ICNF e o IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas], entre outras entidades, porém não se conseguiu chegar a grandes conclusões”.

Para o controlo de pragas de espécies exóticas são necessários vários anos e investimento em investigação, conclui o mesmo responsável.


Fonte: SOL

Comentários