publicado a: 2020-02-03

Invasão de gafanhotos em África. ONU alerta para "ameaça sem precedentes"

Cada gafanhoto do deserto consome o seu peso em comida todos os dias e a nuvem, que pode ter 200 mil milhões de insetos, pode deslocar-se 140 quilómetros em apenas 24 horas. A Somália declarou este domingo emergência nacional, tal como já tinha feito o Paquistão, igualmente afetado no sudoeste asiático.

Há um surto de milhões e milhões de gafanhotos a atingir o Corno de África, resultado das mudanças climáticas extremas, que ameaça tornar ainda mais catastrófica a situação numa região a recuperar da seca e de inundações mortais. Outro surto destes insetos já obrigou também o governo do Paquistão, no continente asiático, a declarar emergência nacional

Densas nuvens destes insetos vorazes espalharam-se desde a Etiópia e a Somália para o Quénia em dezembro, depois de terem começado no Iémen, naquela que é a pior infestação em décadas. Não se via nada assim há 25 anos nos primeiros dois países e há 70 anos no Quénia. No Paquistão, onde a região noroeste do país foi afetada, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, diz que é a pior infestação em mais de duas décadas.

Este domingo, a Somália declarou também emergência nacional. "O Ministério da Agricultura declarou emergência nacional devido ao aumento atual dos gafanhotos, que constituem uma grande ameaça para a frágil situação de segurança alimentar na Somália", referiu o Governo somali em comunicado. "As fontes de alimentação para as pessoas e seus animais estão em risco", acrescentou.

A organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) fala numa "ameaça sem precedentes" e calcula que um dos enxames de gafanhotos tenha 2400 quilómetros quadrados (quase duas vezes o tamanho da Grande Lisboa). Isso significa que pode ter até 200 mil milhões de gafanhotos, sendo que cada um deles consome o seu peso em comida todos os dias. Além disso, podem mover-se 140 quilómetros em apenas 24 horas.

Segundo a FAO, que lançou um apelo aos donativos para poder realizar pulverizações aéreas,um pequeno enxame de apenas um quilómetro quadrado pode ingerir, num só dia, a mesma quantidade de comida do que 35 mil pessoas. No Corno de África há quase 12 milhões de pessoas afetadas por grave insegurança alimentar, sendo que muitas dependem da agricultura para sobreviver.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deixou o alerta na quinta-feira, no Twitter. "Os gafanhotos do deserto são extremamente perigosos. Desencadeado pela crise climática, o surto está a piorar ainda mais a terrível situação de segurança alimentar na África Oriental", escreveu.

O ano de 2019 começou com seca no Corno de África, mas seguiram-se várias inundações. Houve oito ciclones ao largo de África Oriental, o maior número num ano desde 1976, por causa do aumento das temperaturas no oceano Índico.

Caso a situação não seja controlada, o número de gafanhotos pode multiplicar-se 500 vezes até junho, atingindo o Uganda e o Sudão do Sul e tornar-se numa praga que devastará as culturas e as áreas de pastagem numa das regiões mais pobres e vulneráveis no mundo.

Tecnicamente, segundo a FAO, a atual invasão é conhecida como um surto, afetando uma região completa, mas se piorar e não puder ser controlada, então passará à categoria de praga. Desde 1900 registaram-se seis grandes pragas de gafanhotos do deserto, a última das quais entre 1987 e 1989. O último grande surto remonta a 2003 e 2005.

No Paquistão o problema começou em junho, quando os insetos chegaram vindos do Irão, tendo já destruído culturas de algodão, milho e trigo.

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