publicado a: 2018-06-27

A “revolução das minhocas” está a chegar para reduzir o lixo urbano

Um projeto para criação de fertilizantes naturais com recurso a minhocas está a ser desenvolvido por uma equipa de Celorico de Basto, visando produzir adubo de "alta qualidade" e reduzir a pegada ecológica associada ao lixo urbano.

"A nossa sociedade perdeu a ligação à terra. Não sabemos de onde vêm os nossos alimentos, nem para onde vão os nossos desperdícios", conta Pierre Del Cos, responsável pelo projeto Revolução das Minhocas (‘Worm Revolution') que, este mês, chegou à final nacional da ClimateLaunchpad, uma competição da Comissão Europeia que apoia ideias inovadoras com vista à redução do impacto ambiental e que decorreu no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).

Segundo o responsável, 99% dos alimentos consumidos provêm da agricultura convencional, química ou não orgânica, sendo produzidos com fertilizantes criados a partir de recursos minerais limitados.

Além disso, "99% das coisas compradas vão para o lixo em menos de seis meses", acabando a "maior parte deles num aterro, sem reincorporar o ciclo", referiu.

Neste projeto, iniciado em janeiro de 2018, Pierre Del Cos procura criar valor a partir dos resíduos, construindo, simultaneamente, "um futuro mais limpo", através do desenvolvimento da vermicompostagem (compostagem com minhocas) em Portugal.

Para tal, a equipa está a desenvolver minhocários (casa das minhocas), com recurso a materiais naturais e reciclados, fertilizantes de minhoca e com as próprias minhocas, oferecendo "soluções locais para problemas globais".

Os minhocários são fabricados com madeira não tratada, não necessitando de pregos e de parafusos, assegurando, assim, "que o produto tem um fim de vida sustentável, sem criar mais lixo", que podem utilizados a nível doméstico ou por agricultores, referiu o empreendedor.

"Não tratamos a madeira com produtos químicos, assim, em fim de vida, o minhocário pode ser compostado, reincorporando o ciclo", salienta.

As minhocas contidas nos minhocários, explicou, "ajudam a transformar a maior parte dos resíduos da cozinha em fertilizantes naturais, em casa, de maneira divertida e higiénica", o que permite "reduzir a pegada ecológica do lixo orgânico, cultivar alimentos saudáveis e a promover a agricultura sustentável".

Além disso, a compostagem com minhocas pode ser fazer no interior, tendo a vantagem de ser adaptável ao meio urbano, esclareceu.

Peirre Del Cos conta que, embora já existam minhocários no mercado, a grande maioria é de plástico e nenhum é fabricado em Portugal, não existindo ainda, no Norte do país, produção de minhocas.

No âmbito deste projeto está também a ser desenvolvido um sistema de saneamento com minhocas para casas, para criar valor a partir dos resíduos provenientes dos banhos, de forma " a reduzir o impacto negativo no ambiente, sem custo energético nenhum".

A equipa responsável organiza igualmente oficinas e atividades de educação ambiental para divulgar a agricultura sustentável e a compostagem com minhocas em escolas, em mercados e festivais, defendendo que "a educação é fundamental para um futuro mais sustentável".

A ideia para este projeto surgiu depois de Pierre Del Cos morar vários meses em quintas biológicas, "onde todos os recursos e resíduos são reaproveitados".

Ao retornar para a cidade para trabalhar, contou, sentiu-se "desiludido ao ver a quantidade de lixo que aí é produzida", para além do facto de "ninguém conhecer bem as consequências" desses resíduos "nem para onde vão".

"Sabia que se podia aproveitar a maior parte para agricultura, e já tinha visto um minhocário, então decidi começar a compostar os meus resíduos em casa, com minhocas", conseguindo obter resultados "mesmo positivos".

Em março, o projeto foi selecionado para a Incubadora Regional de Impacto Social, em Amarante.

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