publicado a: 2018-11-16

ADVID: Boletim do Ano Vitícola 2018 já está online

A ADVID – Associação Desenvolvimento da Viticultura Duriense acaba de disponibilizar o Boletim do Ano Vitícola 2018. O documento surge no seguimento do workshop promovido pela Associação, junto dos seus associados, para balanço do último ano vitícola.

Pode consultar o Boletim completo aqui.

Segundo o Boletim do Ano Vitícola 2018, o ano vitícola de 2017/2018 caracterizou-se por ser um ano anómalo do ponto de vista climático, em comparação com a evolução dos últimos 5 anos.

O Inverno foi frio e seco, a Primavera fria e extremamente chuvosa e o Verão, numa primeira fase, frio e chuvoso e numa segunda fase, quente e extremamente seco.

Abrolhamento mais tardio

Após um abrolhamento mais tardio, a ocorrência de precipitação ao longo de grande parte do ciclo permitiu um bom desenvolvimento vegetativo, permitindo uma boa recuperação da vinha, face à intensidade do stress hídrico ocorrido em 2017, refere ainda o boletim.

No entanto, apesar do potencial produtivo ser particularmente elevado em 2018, a instabilidade climática exerceu um impacto significativo na redução desse potencial, quer pela nocividade anormal do míldio, ao longo dos meses de Junho e Julho, quer pelos efeitos de escaldão e desidratação, numa fase posterior.

Vindima iniciou-se com cerca de 10 dias de atraso

A vindima iniciou-se em meados de Setembro, com cerca de 10 dias de atraso, face à média, decorrendo sob boas condições climáticas, praticamente sem ocorrência de precipitação e temperaturas amenas a altas. A colheita proporcionou mostos de grande qualidade, com bom nível de açúcar, acidez e compostos fenólicos.

Ciclo vegetativo

A evolução das condições climáticas, em especial a ocorrência de temperaturas mais baixas no decurso da Primavera e de parte do Verão, condicionou o normal desenvolvimento da fenologia, provocando um atraso generalizado no ciclo vegetativo da videira por toda a Região Demarcada do Douro, apesar de ter sido naturalmente diferenciado, de acordo com as castas e sub-regiões, realça o boletim.

De acordo com os dados recolhidos na rede de parcelas de referência da ADVID, e da análise efectuada às castas Touriga Franca e Touriga Nacional, destaca-se o seguinte:

  • O “Abrolhamento” (“ponta verde”) observou-se, em média, por volta de finais de Março/inícios de Abril com um atraso menor no Baixo Corgo (sete dias face à média 2014-2017), e maior no Cima Corgo e Douro Superior (duas a três semanas face à média 2014-2017).
  • A “Floração” foi registada, em média, por volta de finais de Maio, com ligeiras diferenças entre casta e sub-região, mas apresentando um atraso de cerca de seis a 11 dias, face à média.
  • O “Pintor” foi observado por volta de finais de Julho/inícios de Agosto, com um atraso de duas a três semanas face à média, consoante as castas (mais precoce na Touriga Franca) e sub-regiões (mais precoce no Cima Corgo).
  • As elevadas temperaturas ocorridas durante o período de maturação, promoveram uma recuperação do ciclo fenológico, verificando-se que, por análise de datas médias de todas as castas e sub-regiões, a vindima se iniciou com um atraso de cerca de 11 dias, face à média, por volta de finais de Setembro/inícios de Outubro. No entanto, quando analisadas as datas de vindima por casta, e por sub-região, verifica-se que o atraso foi menor nas parcelas com a casta Touriga Franca, localizadas na sub-região do Cima Corgo (seis dias face à média), relativamente às do Douro Superior (16 dias, face à média). No caso da casta Touriga Nacional, o atraso nas datas de vindima foi mais consistente entre sub-regiões, rondando as duas semanas, face à média 2014-2017.

Míldio

Em 2018 as condições meteorológicas registadas durante o Inverno (temperaturas abaixo da NC), e início de Primavera (elevados registos de precipitação no mês de Março), proporcionaram boas condições para a conservação e viabilidade da forma hibernante do fungo (oósporos).

As epidemias mais graves de míldio ocorrem geralmente na sequência de Inverno frios, Primaveras com elevada precipitação, seguindo-se um Verão ameno com chuvas intermitentes a cada 8 a 15 dias, condições observadas durante todo o mês de Junho e início de Julho, na Região Demarcada do Douro.

Sefundo o Boletim do Ano Vitícola 2018, estas condições asseguraram a sobrevivência do fungo (oósporos), bem como a sua elevada germinação na Primavera, permitindo o desenvolvimento da doença e a sua dispersão a toda a vinha e mesmo em toda uma região.

As primeiras infecções ocorreram em finais de Abril, de forma muito pontual, em locais mais abrigados e em castas mais sensíveis, nas sub-regiões do Baixo e do Cima Corgo.

Os primeiros sintomas foram observados em meados de Maio, de forma muito escassa, verificando-se nessa fase uma fraca agressividade da doença, que se manteve até ao final desse mês.

No entanto, a instabilidade meteorológica verificada posteriormente, ao longo de todo o mês de Junho e durante o mês de Julho, com vários episódios de precipitação e registos de elevados valores percentuais de humidade relativa, proporcionou condições favoráveis à ocorrência de subsequentes infecções primárias e secundárias da doença.

A ADVID destaca particularmente a precipitação ocorrida entre os dias 8 e 10, 20 e 22 de Junho e entre os dias 29 de Junho e 2 de Julho, períodos nos quais se registou elevada precipitação, que contribuiu para fortes crescimentos da vegetação.

Nestas condições, verificava-se uma redução da eficácia dos fungicidas aplicados, quer pela diluição provocada pelo efeito de lavagem das chuvas, quer pela intensidade do desenvolvimento da vegetação, obrigando ao encurtamento da renovação dos tratamentos, de acordo com os diferentes modos de acção.

Explica ainda o Boletim que todos os órgãos verdes (com estomas) são susceptíveis de serem atacados pelo míldio, apesar de a sua maior sensibilidade variar de acordo com a casta, a natureza e idade dos mesmos órgãos. De um modo geral, pode considerar-se que as folhas jovens, são o órgão mais sensível ao míldio.

Nos locais onde a doença não tinha sido tratada oportunamente, verificaram-se inúmeras manchas esporuladas nas “netas” , ráquis e pedicelos dos bagos.

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