publicado a: 2019-06-25

“Cabras sapadoras” acusadas de destruir pomares e culturas

Vários proprietários têm-se queixado de estragos feitos em pomares e terrenos por “cabras sapadoras”. O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, responsável pelo projecto-piloto, diz não ter “conhecimento de prejuízos causados”.

Têm por missão limpar os terrenos como forma de combate aos incêndios, mas têm sido alvo de queixas de proprietários que acusam as “cabras sapadoras” de destruírem pomares e outras culturas. Há duas semanas, a Associação de Protecção e Socorro recebeu quatro queixas, de acordo com o presidente João Paulo Saraiva. Mas, desde 2018, já lhes foram apresentados 18 casos.

“Temos pessoas que nos confundem com a Autoridade Civil e apresentam-nos queixas. Por norma, fazemos por remeter as pessoas para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)”, explica João Paulo Saraiva.

Maria Helena de 70 anos, da povoação do Sail (Arganil), foi uma das visadas. Tem um terreno com cerca de 100 árvores de fruto, mas 80 delas foram estragadas pelas cabras sapadoras. “Algumas das árvores até já estavam a dar cerejas… Fomos plantando o terreno porque sobreviveu ao fogo, não queríamos que ficasse com mato. Tivemos tanto trabalho e agora deparo-me com tudo destruído”, conta ao PÚBLICO.

Também António Armando de 63 anos, do Vale do Espinho (Arganil), se queixa de árvores de fruto e videiras destruídas. Constatou por si próprio que tinham sido as cabras a causar os estragos. “Já as vi no meu terreno. Até na estrada as encontro. Uma vez, uma dessas cabras saltou para a frente do meu carro. Só não tive um acidente porque não calhou”, explica António Armando.

Quando questionado pelo PÚBLICO, o ICNF afirmou não ter “conhecimento de prejuízos causados por efetivos abrangidos pelo programa, sendo que, caso ocorram, são da responsabilidade do gestor do efetivo, tal como ocorre com os prejuízos causados a terceiros por qualquer outro tipo de atividade”.

Dos cinco proprietários entrevistados, todos afirmaram que as cabras não são supervisionadas por nenhum pastor. No entanto, segundo o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural “o controlo dos animais é assegurado pelo respetivo proprietário [das cabras] através dos meios que considere mais adequados para a realidade do seu território”, devendo ainda estar “obrigados a cumprir a normas de identificação de cada animal que decorrem do Sistema Nacional de Informação e Registo Animal (SNIRA)”.

O certo é que estes, e muitos outros terrenos, não estão vedados. Das cinco pessoas contactadas pelo PÚBLICO, todas afirmaram que não lhes compensa, ou que não têm dinheiro para construir vedações. Também João Paulo Saraiva dá conta desta realidade: “Tivemos um senhor de 93 anos que o que recebe mal dá para pagar medicamentos, nem sequer tem água canalizada em casa. Como é que ele vai pagar uma vedação?”, questiona.



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