publicado a: 2019-10-01

Portugal “consome mais água do que deve”, alerta a WWF

As autoridades devem "deixar de financiar novos regadios em zonas de escassez" e "preservar ecossistemas aquáticos saudáveis, alerta a secção portuguesa da organização ambientalista World Wilde Found (ANF/WWF). Só assim é possível enfrentar os desafios de um futuro mais quente e seco.

Num contexto de alterações climáticas, Portugal enfrenta cenários de secas mais prolongadas e de escassez de água. Contudo, “continua a consumir mais água do que devia, resultando em crescentes situações estruturais de escassez, em particular no sul do país”, alerta a organização ambientalista ANP/WWF.

No relatório “Vulnerabilidade de Portugal à Seca e Escassez”, divulgado esta quarta-feira, os ambientalistas advertem para a necessidade de reforçar a preservação dos recursos hídricos e a eficiência no uso da água, passando estas práticas a ser “uma prioridade como medida de adaptação à nova realidade”.

“Nós já temos pouca disponibilidade de água face aos consumos que fazemos sobretudo na agricultura e continuamos a ter um aumento brutal dos perímetros de regadio e de agricultura intensiva”, critica Afonso do Ó, especialista da ANF/WWF nesta área. “Só no Algarve, os consumos de água aumentaram 10 vezes nos últimos 50 anos, com um peso maior na agricultura do que no turismo”, acrescenta.

O especialista em água e alimentação lembra que "ecossistemas aquáticos saudáveis são os nossos melhores aliados para enfrentar os desafios de um futuro mais quente e seco.” Por isso, deixa o recado: “As autoridades devem deixar de financiar novos regadios em zonas de escassez, e globalmente sempre que não garantam sistemas de uso eficiente e frugal da água, e devem tomar decisões informadas.”

De acordo com o IPMA, no final de agosto quase todo o território do continente estava em situação de seca meteorológica, sendo que cerca de 35 % — as regiões do Alentejo e Algarve — estavam nas classes de “seca severa e extrema”.

A WWF defende “uma gestão preventiva e não reativa e de emergência” face a situações de seca futuras. Já que, “iremos observar fenómenos climáticos extremos cada vez mais frequentes, acompanhados de uma possível redução de precipitação, e num clima mediterrânico como o de Portugal isso poderá ter efeitos catastróficos”, sublinha Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF.

No relatório “Vulnerabilidade de Portugal à Seca e Escassez” recomendam ao Governo, entre outras coisas, que “deixe de financiar novos regadios em zonas de escassez”, que conserve e reabilite ecossistemas aquáticos ou que garanta “práticas de licenciamento e fiscalização que assegurem uma distribuição equitativa dos direitos de uso entre as atividades económicas e os ecossistemas”.

Já aos empresários, aconselham a que reduzam consumos, contribuam para o pagamento de serviços dos ecossistemas, e diversifiquem as origens dos sistemas de abastecimento, entre outras dicas; e aos agricultores em particular, apelam para que optem por equipamentos de rega mais eficazes e culturas melhor adaptadas e mais resilientes.

Quanto aos cidadãos, o lema é: reduzir os consumos domésticos, apostando em equipamentos mais eficientes e menor desperdício; consumir menos em geral, e pressionar as autoridades para uma gestão preventiva da seca e o cumprimento da Diretiva-Quadro da Água.

As delegações da WWF de Portugal e Espanha aproveitaram também o Dia da Água, que se assinala esta quarta-feira, para emitir uma posição conjunta apelando aos respetivos Governos para adotarem uma gestão preventiva das secas, reforçarem as medidas de monitorização e ajustarem a procura de água aos recursos disponíveis nos rios, albufeiras e aquíferos.

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